DIVERTIMENTO X PRAZER
Hoje gostaria de compartilhar
algumas reflexões sobre o livro “Prazer – uma abordagem criativa da vida” de
Alexander Lowen, as quais tocaram fundo no meu ser, na medida em que deixam
evidente o quanto somos manipulados pelo sistema capitalista para sermos
infelizes e consequentemente consumirmos para sanar nossa infelicidade. Porém,
essa felicidade prometida é fugaz e voltamos rapidamente para a tristeza e dor,
criando novas necessidades de consumo.
Uma das profundas ilusões criada
pelo capitalismo para sustentar o consumismo é a ideia de que o divertimento é
igual ao prazer. “Compre divertimento e terá prazer garantido”! Infelizmente
isso não está diretamente relacionado em todos os momentos. Podemos nos sentir
profundamente vazios no meio de uma multidão de divertimento.
Lowen aponta que há uma “ética do
divertimento”, que busca implantar a ideia que o importante hoje é se divertir
ou parecer que está se divertindo ou fazer com que o outro acredite que você
está divertindo. Um exemplo fácil de reconhecermos isso é verificar como as
postagens no Facebook são quase sempre das pessoas se divertindo em viagens, em
restaurantes, em festas, etc.
O problema dessa perspectiva é que
nem sempre o divertimento garante o prazer. A ética do divertimento, segundo
Lowen, parece existir para evitar compromissos, sendo apenas um passatempo que
não exige maiores envolvimentos.
E uma das premissas fundamentais para
que o prazer aconteça verdadeiramente, é que haja um comprometimento total, uma
entrega ao que está se fazendo. O corpo e a mente precisam estar integrados ao
momento presente.
Como vivemos em estado de ansiedade
constante, tal entrega está muito prejudicada. Somos levados a trabalhar
muito pra consumir mais pra alcançar o prazer, no entanto ficamos constantemente
preocupados e ansiosos, não prestamos atenção no momento presente e acabamos
não sentindo o prazer, o que gera mais ansiedade e depressão, mais demanda de
consumo e o ciclo vicioso se estabelece de uma maneira muito negativa.
É muito triste constatar que o
sistema capitalista não tem interesse nenhum em promover o prazer, muito pelo
contrário, sua intenção é promover a infelicidade, a dor e a doença constantes,
pois pessoas insatisfeitas e infelizes são mais fáceis de serem manipuladas e
ludibriadas com promessas ilusórias de divertimento.
O mais importante para o capitalismo
é o poder. De acordo com Lowen, na “cultura moderna, (que) é mais dirigida pelo
ego do que pelo corpo, o poder se transformou no principal valor, reduzindo o
prazer a uma situação secundária” (p.10). E quando passamos a vida lutando pelo
poder, sacrificamos o corpo e o prazer, na tentativa de alcançar o falso prazer
prometido pelo consumismo. Quanta ilusão!
É muito triste também constatarmos
que nossa educação, tanto a familiar quanto a formal, nos educa contra o
prazer, de forma que ele passe a gerar sentimentos conflitantes. Especialmente
se o prazer estiver relacionado a sexualidade, a repressão se torna ainda maior.
A seriedade, o trabalho pesado, o dinheiro e o status, são muito valorizados na
nossa cultura, o que acaba impedindo a leveza do prazer.
Diante dessa realidade, nossos
corpos de tornam tensos, duros, rígidos, doentes, vazios, gerando em nós um
desejo de fuga da realidade, que pode ser via compulsões (álcool, drogas,
comida e outras anestesias) ou via alienação do corpo ou desconexão, o que
impede de vez o verdadeiro prazer.
Como então alcançar o prazer?
Reconectar-se com o corpo e com a
realidade do momento presente é um caminho que pode ser trilhado nessa busca. Lowen
diz que o prazer nos une aos nossos corpos, à realidade, aos amigos e ao
trabalho.
“... não é necessário estar se
divertindo ou feliz para sentir prazer. Pode-se ter prazer nas circunstâncias
comuns da vida, pois o prazer é um modo de ser. A pessoa está num estado de
prazer quando os movimentos do seu corpo fluem livre, ritmicamente e em
harmonia com seu ambiente” (p.21-22).
Essa ideia é muito libertadora! Não
precisamos consumir para ter prazer! Ele é de graça e pode ser encontrado em
qualquer atividade do seu dia a dia, onde seu corpo esteja realmente presente
na atividade vivida.
O trabalho da bioenergética
desenvolvido por Lowen busca acessar e liberar os bloqueios corporais que os
indivíduos foram construindo ao longo da vida. Um desses trabalhos é com a
respiração. A ansiedade prejudica muito nossa respiração e a oxigenação do
corpo como um todo, facilitando o endurecimento corporal. Trazer o foco para a
sua respiração, prestar atenção nela, compreendê-la e ampliá-la pode trazer
benefícios e mudanças importantes.
O trabalho do Mindfulness (traduzido
como atenção plena, consciência plena) também têm ajudado as pessoas a
desenvolverem práticas e novos hábitos de atenção ao momento presente.
Na minha experiência pessoal,
cultivo a gratidão por cada coisa, atitude, gesto, bênção, desafio, ou situação
que a vida me proporciona a cada dia, a cada instante. Estar num espírito de
gratidão constante me ajudou muito a mudar para uma vibração mais elevada e um
estado de humor mais positivo e prazeroso.
Também procuro ter bom humor sempre,
mas especialmente nos momentos que percebo que estou séria, procuro fazer uma
brincadeira comigo mesma, danço uma música, faço um elogio, ou uma frase motivacional que inspire e
transforme meu humor em alegria. Assim vou sentindo meu corpo com prazer.
Estimado leitor, não existe uma
receita pronta e igual pra todas as pessoas resgatarem seu prazer. Você terá
que encontrar o seu caminho. Talvez as ideias deste post te ajudem a fazer seus
próprios questionamentos, reflexões e busca de transformação. Compartilhe
conosco seus sentimentos no espaço para comentários abaixo!
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagram: @solteirosecasais
Referência Bibliográfica:
LOWEN, Alexander. Prazer - uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.
Referência da Figura:
1. Retirada do Google imagens
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