HOMEM MACHO versus HOMEM SENSÍVEL
A SEPARAÇÃO DO MASCULINO
Mês passado escrevi um texto sobre a
separação do feminino e neste post gostaria de tratar o mesmo tema da separação,
mas com o foco no masculino, o qual se encontra tão cindido no homem quanto o
feminino está cindido na mulher.
A história do Movimento Feminista
mostra bastante a luta pela construção da igualdade de direitos entre homens e
mulheres, ou seja pela equidade de gênero. Dessa forma, o movimento vem
favorecendo uma série de conquistas que diminuíram as desigualdades, mas que
ainda está longe de superar completamente o Patriarcado enraizado na estrutura
da sociedade e internalizado nos indivíduos.
Por outro lado, não são muito
populares nem muito conhecidos, os movimentos (conferir sites abaixo*) que atualmente visam repensar as
masculinidades, alguns deles dentro do próprio Movimento Feminista, refletindo
sobre o papel social do homem, a construção da masculinidade em seus diversos
âmbitos inclusive na paternidade, os aprisionamentos culturais dos homens, as
políticas de saúde e trabalho em relação aos homens, etc..
Apesar de esses movimentos terem desconstruído
bastante a hegemonia do Patriarcalismo, este ainda tem uma força muito grande
em nossa sociedade e no imaginário popular coletivo. A partir dele, foi sendo
criada uma série de mitos sobre a “verdadeira masculinidade” e sobre como
alcançá-la.
Algumas das características
valorizadas para uma masculinidade desejável na nossa cultura são: a
agressividade, a virilidade, o trabalho/dinheiro/posses, e o poder.
Características consideradas femininas como a sensibilidade, o cuidado e o
afeto foram – ou deveriam ser - rejeitadas e repudiadas pelos homens, pois se
as possuísse, seria menos macho, maricas/bicha, ou mulherzinha.
Nessa construção Patriarcal, o
feminino não tem valor, somente o masculino. É muito comum vermos nas mulheres
um avanço em termos da busca de igualdade, especialmente no trabalho, mas que
também negou o feminino e buscou funcionar de acordo com as características do
masculino, uma vez que este sim era valorizado.
A inserção constante nessa crença
cultural é suficientemente propícia para a separação do masculino. Pais e mães,
consciente ou inconscientemente, desde as brincadeiras mais iniciais da
infância, ensinam seus filhos as características desejadas para que o filho
menino corresponda as expectativas culturais do macho. Na grande maioria das
vezes esses pais impedem seus filhos de brincar com brinquedos ditos femininos
e de cuidado. Assim, a cisão do masculino começa muito cedo.
Indo além da infância e do âmbito familiar, a
escola, os colegas, a igreja e demais instituições, a partir de suas crenças,
discursos e comportamentos profundamente machistas, reforçarão para o homem
aquelas características masculinas padronizadas.
O homem, então, é condicionado,
reforçado, atacado, controlado por estas forças durante toda sua vida. Na
verdade, homens e mulheres “sofrem” essas influências, havendo mulheres tão
machistas quanto os homens. Como resistir ao arsenal cultural? Como mudar
internamente essas crenças e valorizar mais as construções igualitárias de
gênero?
Acredito que um eixo fundamental
dessa discussão passará pela autoestima.
Um homem que precisa comprovar sua masculinidade, através da agressividade, da
sexualidade e do poder, ainda está esperando a aprovação do seu grupo de
iguais, de um outro externo julgador ou avaliador que irá aprová-lo ou
desaprová-lo enquanto homem. Minimamente, a autoestima deste homem é vulnerável
ao reconhecimento – ou não – dos outros. A construção de uma boa autoestima
passa pela busca de coerência interna, ou seja, de viver conforme seus próprios
valores e não pelos valores alheios. Este homem precisa se separar dessa
necessidade de reconhecimento e validação no outro.
A partir de uma autoestima mais
fortalecida, um homem que decida construir relações de gênero mais
igualitárias, e uma masculinidade fora dos padrões Patriarcais, terá mais
condições de colocar limites nas
pessoas que tentarem minimizá-lo, criticá-lo ou ironizá-lo pela sua escolha,
além de colocar limites em situações e discursos que perpetuem a desigualdade.
Ter limites também é uma forma de se proteger contra os ataques machistas de
outros homens e mulheres, e esses ataques podem estar dentro de sua família
mais próxima. Construir limites claros é fundamental para uma mudança do
masculino.
Outro ponto relevante é a
compreensão de que as mulheres são verdadeiramente muito prejudicas pela lógica
Patriarcal, mas que elas não são as únicas. Os homens são também profundamente
comprometidos. Não poder sentir nem demonstrar sentimentos, não poder ser
frágil nem mostrar suas fragilidades, ter obrigatoriamente que transar com uma
mulher (em referência a heterossexualidade) mesmo que não a deseje, ter que
mostrar seu poder mesmo que seja a força, não me parecem grandes vantagens para
nenhum homem.
Enquanto o homem não perceber seu próprio prejuízo, dificilmente ele vai
querer mudar, pois existem muitas pseudo vantagens em corresponder ao masculino
culturalmente valorizado: uma maior liberdade sexual – que não significa uma
vivência plena da sexualidade; ser temido e respeitado pelos outros – o que não
significa ser amado; ter uma carga de trabalho menor que a da mulher – que hoje
trabalha fora e cuida do lar ficando sobrecarregada e menos disponível pra
relação assim como esse homem fica alheio às responsabilidades adultas de uma
família e fica infantil também; etc..
Para um homem tornar-se integrado, para incorporar seu homem sensível, precisa parar de negar e repudiar, mas sim aceitar seu próprio feminino. A comprovação da masculinidade foi
muito fortemente arraigada nessa negação, e é fundamental que essa ferida seja
curada.
A negação do feminino está muito
ligada também a negação da
homossexualidade. Culturalmente foi sendo construída uma crença distorcida
de que um homem com características femininas seria aquele com tendências homoeróticas. Esse é um grande fantasma do masculino e a negação do
seu feminino vem para tentar evitar tornar-se homossexual, uma vez que a cultura machista é também profundamente homofóbica.
Em contrapartida, os homossexuais que se assumiram e se aceitaram, podem ter uma maior integração do masculino e feminino, pois como já estão fora do padrão Patriarcal de homem, acabam ficando mais livres das estruturas machistas internalizadas, apesar de também sofrerem preconceitos e terem que lutar por respeito a sua diferença.
Feminino e Masculino são dois
elementos naturais e importantes para a psique humana, que foram construídos, desconstruídos
e distorcidos pela cultura. Um homem que tem medo do seu próprio feminino, que ainda
tem necessidade de comprovar sua masculinidade e que tem uma autoestima baixa,
infelizmente não conseguirá resolver sua própria cisão.
Estimado leitor (homem), você se enxerga situado nessa separação ou já evoluiu para alguma integração? Onde está sua
própria masculinidade? Você ainda sente necessidade de prová-la para o outro?
Deixe seu comentário no espaço abaixo!
* Conferir os movimentos nos sites
abaixo:
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura:
1. foto extraída do site http://khalid-art.deviantart.com/art/Under-Color-200619606
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