MEDO DE AMAR DE NOVO – POST DE ANO NOVO 2017
O
medo de amar de novo possui múltiplas facetas. Neste post busco refletir sobre
três facetas em especial. O conceito de amor distorcido, construído na
infância, gerando um medo de amar; o medo de amar como consequência de uma
vivência amorosa muito dolorosa; e o medo de amar pelo medo da perda da
individualidade, na perspectiva do autor Flávio Gikovate.
Nós
nascemos em uma família que traz em sua história transgeracional, um conceito de amor que foi sendo
construído nas relações afetivas entre seus membros, de forma inconsciente. Este conceito é muitas
vezes distorcido, pois as formas de vincular nem sempre são positivas, podendo
ser extremamente negativas e até mesmo violentas.
Quando
os vínculos relacionais familiares são violentos (em todos os aspectos da
violência: psicológica, física e sexual), a criança pode construir uma
desconfiança básica. Ela entende que não pode confiar em ninguém porque
quando confiou na capacidade dos pais de cuidar, amar e proteger, foi frustrada
duramente, sendo abandonada, negligenciada ou violentada.
Se
não podemos confiar em nossos próprios pais, que são nossos primeiros objetos
de amor, como poderemos confiar no “mundo lá fora”? Dessa forma, a criança constrói um bloqueio na capacidade de entrega nas relações, pois tem que
aprender, a duras penas, a se proteger sozinha.
Se
o amor está ligado a abandono, negligência ou violência e estas machucam e trazem
sofrimentos, então o amor se torna temido, pois quem ama abandona ou agride.
O
indivíduo que tem essa crença como premissa em sua vida, terá muita dificuldade
de amar novamente. A entrega e a confiança ficaram extremamente comprometidas.
Assim,
como os padrões familiares são entendidos como normais para tal indivíduo, ele
nem sempre consegue questionar sua crença no amor distorcido. Ele faz uma generalização
inconsciente de que toda possibilidade amorosa virá conjuntamente com seu lado
negativo. Sendo assim, como defesa, melhor fugir desse amor temido.
Duas
reações de fuga extremas são identificadas nesse padrão:
1. Os viciados em amar – que são pessoas extremamente carentes
e dependentes, não conseguem ficar sozinhas, e acabam sempre entrando em
relacionamentos falidos e têm que ficar correndo atrás do outro, mendigando
amor; e
2. Os evitativos – que são pessoas que não vinculam
emocionalmente com o outro, podendo ficar isoladas ou se relacionarem
superficialmente com muitos.
O
medo do amor não impedirá que essas pessoas tenham relacionamentos ao longo da
vida. Apesar dos padrões acima serem polos opostos e também de parecer que a
pessoa que ama demais está envolvida, mas em ambos os casos, o sentimento de
entrega na relação é que está comprometido.
Com
isso o indivíduo poderá fazer de suas relações um inferno – possessividade,
ciúmes doentios, tentativa de controle, altas expectativas, distanciamento
excessivo, etc. – para comprovar que não pode confiar em ninguém e perpetuar
sua dificuldade na entrega.
Além
disso, temos que considerar que partindo da crença num conceito de amor
negativo, os indivíduos podem atrair relações amorosas que confirmem sua
crença, pois inconscientemente são levados a atrair o que é conhecido. Chamamos
isso na psicoterapia de “profecia que se auto cumpre”, que é quando atraímos o
que mais tememos, pois a crença é muito forte dentro de nós.
Pensando
no segundo aspecto proposto para este post, o medo de amar por causa de traumas de relacionamentos anteriores, digamos
que o indivíduo tenha tido um conceito de amor razoável, mas que por algum
outro motivo inconsciente tenha atraído uma pessoa de difícil trato, ou que a
própria relação tenha evoluído para um caminho complicado. Quando a pessoa se
sente aprisionada nessa relação e tem dificuldade para sair dela, ou acredita
que precisa tentar tudo até esgotar seus recursos, o sofrimento vai se
prolongando ao longo da vida a dois.
Esses
casos onde a relação foi muito conflituosa, também podem promover no indivíduo
um medo de amar de novo. Um trauma ou vários traumas sucessivos foram
imprimindo no indivíduo a crença de que a relação amorosa significa problema,
aprisionamento e sofrimento.
A
crença mais profunda pode ser a de que o amor é imprevisivelmente louco, e
o indivíduo extremamente frágil e indefeso, gerando o medo de ficar preso nessa
loucura outra vez. Aí como defesa, o indivíduo escolhe se proteger relacionando
superficialmente ou não relacionando, de certa forma se isolando ou boicotando
as possibilidades relacionais que aparecem.
A
verdadeira defesa está no autoconhecimento, para que o indivíduo esteja
preparado para fazer uma escolha mais assertiva. Entender que escolhemos o que
é conhecido, e analisar nas nossas origens, o que queremos ou não queremos
repetir, aprender a escolher com essa consciência é um dos passos para uma
verdadeira escolha amorosa.
Geralmente
as escolhas são inconscientes e estão ligadas à paixão, o que é de certa forma
arriscado, pois o apaixonar-se é uma sublime loucura que vai ao encontro do
conceito de amor conhecido, além de ser a perfeita projeção do príncipe/princesa
encantados. Se o seu conceito de amor
não fosse distorcido, até que não seria tão complicado. O problema é que apaixonamos
pela nossa doença e dessa forma, acabamos por nem sempre escolher o que
realmente é melhor.
Outra
forma de defesa mais adulta seria o aprendizado do limite claro e assertivo.
Quando o indivíduo consegue falar não para um relacionamento ruim, ou para as atitudes
inadequadas do parceiro ou até para si mesmo, define para si e para o outro
aquilo que aceita ou não. Dessa forma, se torna mais capaz de se proteger.
Talvez,
se o indivíduo conseguisse amadurecer no sentido de acreditar em si mesmo, na
sua capacidade de escolher, de saber seu limite na vida, ele tivesse menos medo
de amar de novo, pois confiaria no seu poder de deliberar sobre sua própria
vida.
O
terceiro aspecto proposto para discussão foi o medo do amor – depois ampliado como parte de um processo mais
complexo que é o medo da felicidade – que segundo Gikovate em seu livro “Uma nova visão do amor”, corresponde ao medo de perder a própria identidade e
individualidade, em decorrência da fusão romântica intensa.
Essa
dilema entre o amor e a individualidade é muito presente na nossa sociedade que
valoriza muito o individualismo. Viver o amor é conotado como perda da
liberdade e como consequência as pessoas perderam a capacidade de negociar,
chegar num meio termo ou até mesmo ceder.
Num
vídeo do professor historiador Leandro Karnal, ele fala que a maturidade
emocional requer o aprendizado de que toda escolha implica em perdas. Escolher
viver um relacionamento, gera restrição em alguns aspectos da vida individual,
uma vez que é necessário incluir o parceiro nas decisões, e escolher ficar só,
em alguns momentos fará falta a companhia de alguém pra dividir a vida ou as outras
coisas boas que um relacionamento pode oferecer.
Nesse
caso, o medo de amar está ligado a uma imaturidade do indivíduo em fazer suas
escolhas e arcar com as consequências. É uma tendência da atualidade que pessoas
queiram ter tudo, amor e liberdade, mas sem desenvolver internamente os
aspectos relacionais e individuais para lidar com a escolha que fez.
Isso
tudo somado lógica capitalista do descartável, torna-se mais fácil jogar fora o
que deu defeito ou estragou. Relacionar requer aprendizados de negociação,
flexibilidade, enfrentamento, limite, comunicação, o que dá muito trabalho.
Descartar é mais fácil. E possui por trás uma fantasia da possibilidade de se
achar um produto melhor na próxima prateleira relacional.
O
medo da felicidade para Gikovate, diz respeito a uma sensação de medo que
aparece mediante um momento de felicidade, que prevê uma tragédia logo após a
felicidade. Voltamos então ao início do nosso post, quando citamos o conceito
de amor/felicidade que possuímos: se a crença é que a felicidade está seguida
de uma tragédia, precisamos ficar em estado de alerta para não sofrer. Assim
segue a profecia que se auto cumpre, quando boicotamos a possibilidade de viver
o amor de forma plena.
Estimado
leitor, para o ano de 2017, desejo que você consiga compreender e curar internamente
o seu medo de amar de novo, e possa fazer escolhas amorosas mais conscientes e
viver de fato uma experiência de amor nutridora.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura:
1. foto extraída do google imagens
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