TIRANIA INTERNA versus
RECONHECER O PRÓPRIO VALOR
Na
prática clínica, na vida familiar, entre amigos e comigo mesma, tenho percebido
o quanto somos exigentes e tiranos de nós mesmos. Nunca somos bons o
suficiente, sempre temos que melhorar cada vez mais e fazer mais coisas para
sermos amados pelo outro.
Vejamos
algumas dinâmicas que favorecem a construção da nossa tirania interna.
Ela
pode ser um reflexo da nossa criança
interior ferida. Quando crianças, nossas expectativas de amor frustradas se
transformam em culpa, ou seja, entendemos que não conseguimos o amor que
gostaríamos por causa de termos algum defeito, algum problema que afasta,
enraivece ou amedronta o outro. Sendo a culpa algo nosso, passamos a nos cobrar
e exigir demasiadamente melhorias fantasiosas, a ser uma pessoa que não somos.
Mas como o outro não corresponde o amor idealizado que sonhamos, continuamos na
falta e a nos exigir mais. Assim, o pequeno/pequena tirano interno toma nossas
vidas e nossos relacionamentos, afastando o amor que tanto desejamos viver.
A
tirania também pode ser uma repetição de padrões
familiares. Alguns filhos podem se identificar com pais muito exigentes e cobradores. Esses filhos
desde cedo passam a se esforçar ao máximo para conseguir se adequar às
expectativas familiares. Esse estilo de pais nem sempre reconhece e valoriza a
conquista, mas enfoca os erros e o que precisa melhorar, enxergando sempre o
que falta. Crescendo num ambiente assim, podemos internalizar que não somos
bons o suficiente e que precisamos fazer sempre mais.
Uma
terceira dinâmica criadora de tiranos internos acontece em famílias onde os
filhos se sentem muito desamparados.
Nessas famílias os pais não conseguem oferecer a segurança material e emocional
para que seus filhos cresçam confiantes em si e na vida. Os filhos “amadurecem”
rápido, na verdade se tornam velhos emocionalmente, e tentam controlar a
própria realidade para não sofrer. Muitas vezes sobem na hierarquia e se tornam
pais dos pais, tentando corrigi-los e ensiná-los a serem melhores. É uma
contrarreação ao desamparo. Ao viver num
contexto assim, podemos ficar muito rígidos e tiranos conosco para dar conta do
tamanho peso de ser adultos fora do tempo e de cuidar da própria família sem
perder o controle de uma situação que já é sentida como caótica.
Com
uma ou mais de uma dessas dinâmicas internalizadas - que não esgotam todas as
possibilidades - podemos nos sentir sempre em débito, pois nada do que façamos
irá conquistar o amor do outro, ou fazer o outro nos reconhecer ou nos fazer
sentir seguros internamente.
O
ponto em comum dessas dinâmicas é que buscamos algo fora de nós mesmos: amor,
reconhecimento e segurança. Ao buscar esses elementos fora, ficamos a mercê do
outro, dependentes e carentes. Se não recebemos o que desejamos, ficamos
frustrados e despejamos nossa raiva nos nossos parceiros e demais relacionamentos.
É
necessário fazer um giro de referência, ou seja, deixar de buscar fora para
encontrar dentro. Amor, reconhecimento e segurança são possíveis de serem
construídos internamente e somente quando conseguimos realizar essa façanha, é
que a nossa tirania interna diminui ou se esvai.
Amar – gostar de, e respeitar a nós
mesmos como somos, independente dos defeitos que possuímos e das melhorias que
queremos implementar. Aceitar o que já somos e conseguimos construir, sem
cobrar o que ainda não alcançamos.
Reconhecer – valorizar nossos esforços mesmo
quando eles não dão o resultado desejado
(um livro metafórico sobre o assunto: “O Pote Vazio”). Enxergar o nosso valor, que é de graça, sem precisarmos
fazer algo mirabolante para sermos valiosos.
Segurança – acreditar no próprio potencial,
na própria capacidade de aprender e de batalhar pelos desejos e sonhos. Ter fé
que a vida está nos oferecendo as experiências que precisamos para nosso
aprendizado e que na medida que vamos buscando coerência e consistência os
retornos e resultados virão como consequência de nosso esforço e investimento
em nós mesmos.
Nossa
dependência do outro muitas vezes nos faz infelizes e miseráveis mendigos de
amor. A tirania interior é uma consequência de um profundo sentimento de
inadequação e de uma tentativa de encaixarmos num formato idealizado por nós
mesmos e pela nossa fantasia sobre o que o outro deseja em nós. A maior
liberdade é a permissão de sermos nós mesmos e a permissão de não sermos amados
pelo outro.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura:
1. foto extraída do site: https://morguefile.com/search/morguefile/1/anger/pop
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Quantas questões complexas a serem refletidas estão expostas neste texto... Amei!!! Temos que travar uma luta diária com nossos monstrinhos que nos atrapalham na construção do amor próprio e satisfação!!!
ResponderExcluirQue bom que você gostou Verônica!
ExcluirIsso mesmo! essa luta interna vai levar a vida inteira! e seria bom se pudéssemos fazer essa luta com alegria e amor!
Agradeço seu comentário!
Um abraço
Adriana