SENTIMENTOS CONFUSOS
Infelizmente não fomos nem somos
educados, até hoje, para reconhecer e tampouco para falar sobre nossos
sentimentos. Nossas famílias, ao contrário, têm uma rejeição muito grande com
nossos sentimentos, especialmente os negativos e na maioria das vezes nos
ensinam a calar todos eles.
“Engole o choro”; “fala baixo, senão os
vizinhos vão ouvir”, “cala a boca, quem manda aqui sou eu”, são algumas das vozes
que muitos de nós já ouviram na infância e adolescência, nos fazendo entender
que nossos sentimentos são ruins e que devemos rejeitá-los.
Por outro lado, também podemos
observar pais extremamente permissivos, que dão muito aos seus filhos no plano
material, permitem fazer coisas inadequadas para a idade e para o momento, mas
também não sabem compreender seus sentimentos e suas necessidades. A falta de
limites e de frustração serão os maiores problemas nesse estilo de parentalidade, e limites também
são entendidos como amor e segurança por parte dos filhos.
Assim, tanto a permissividade como o
autoritarismo são duas faces da mesma moeda: pais inseguros, que têm
dificuldades de enxergar e fazer uma leitura mais consistente e assertiva das demandas
emocionais de seus filhos. São geralmente pais infantilizados, ou que têm
problemas em assumir uma parentalidade adulta mais justa, nem largada nem
violenta, ou que não têm disponibilidade emocional para se dedicarem aos filhos.
Também não tiveram um bom modelo de parentalidade em suas famílias de origem,
repetindo muitos padrões inadequados.
Se não possuímos essa educação e
tampouco um espelho familiar para falar e tratar nossos sentimentos, esses “bichinhos”,
quando aparecem dentro de nós, são extremamente difíceis de compreender,
deixando-nos confusos, ansiosos, e as vezes até muito perturbados e doentes.
Pra piorar nossa situação, existe
uma indústria farmacêutica que tem muito interesse em ampliar nossa confusão
sentimental, e que passou a associar sentimentos com doenças, e
consequentemente com a demanda por remédios. Tristeza virou depressão, raiva
virou bipolaridade, falta de limite infantil virou hiperatividade e déficit de
atenção, medo virou pânico, e isso para citar apenas algumas referências. Os
profissionais da área da saúde acabam colaborando com essa lógica, na medida em
que não se capacitam para fazer um bom diagnóstico ou quando só tratam sintomas
sem conhecer o ser humano como um todo e inserido num contexto maior.
O fato é que, a psicoterapia costuma
ser o contexto onde há uma maior tentativa de compreender, traduzir e elaborar
os sentimentos. E nem sempre os indivíduos procuram por ajuda, podendo passar a
vida inteira sem saberem lidar com suas emoções.
Eu faço psicoterapia há muitos anos,
e posso dizer que aprendi muito sobre mim, sobre como minha história me afetou
e afeta ainda hoje meu estado emocional, consigo perceber quando estou sendo dominada
por uma emoção negativa, já tenho controle sobre muitas delas, mas muitas vezes
ainda perco controle e entro num estado de angústia muito difícil de viver.
O que quero dizer com isso, é que, ter
consciência, compreender e aceitar nossos sentimentos, não é garantia de que sempre
vamos ter controle sobre eles. Em alguns momentos a tomada do nosso humor pelos
nossos sentimentos é necessária e até saudável. Viver a tristeza durante um
momento ou processo de luto é natural. Ter raiva quando você se sente abusado é
muito necessário até para sair dessa situação. Ficar com medo diante de uma
situação nova é completamente esperado.
Os sentimentos só se tornam
patológicos quando ficamos cristalizados neles, vivendo e revivendo os mesmos
ao longo de muitos anos. Eles se tornam assim quando fazem um gancho com nossas
histórias de origem e com as emoções não resolvidas que carregamos do nosso
passado.
Então, sempre teremos sentimentos
inconvenientes sendo acessados pela nossa psique, dependendo do momento de
vida, pois não é possível (a exceção talvez seja apenas o que alguns
espiritualistas chamam dos iluminados – aqueles que transcenderam o ego) sermos
completamente bem resolvidos nessa existência.
A diferença será entre aquelas
pessoas que aprenderam a compreender e acolher seus sentimentos e buscam cuidar
de si mesmas durante seus períodos de maior emocionalidade, e aquelas que os
ignoram porque os temem demais ou que se anestesiam compulsivamente para não
sentir.
Você conhece seus sentimentos
negativos, estimado leitor? Você já parou pra pensar na quantidade de
sentimentos dolorosos que existem e que podem estar te incomodando nesse
momento? Segue abaixo uma lista pra você avaliar. Procure ser bastante honesto
consigo mesmo, tentando identificar quais sentimentos você costuma ter com
frequência, quais os que você está sentindo agora e quais deles você precisa acolher,
aceitar e compreender o que está por trás deles.
Geralmente os sentimentos não vêm
isolados. É comum o sentimento que aparece explicitamente não ser o principal.
Atrás da raiva e do medo pode existir uma profunda insegurança e desamparo, por
trás da tristeza pode ter uma raiva sufocada, por trás dos ciúmes pode ter um
medo do abandono; e por aí vai. São múltiplas as associações.
Tentamos, na maior parte da vida,
lidar com nossos sentimentos através da fuga e da anestesia. Essas formas são
arranjos provisórios que só adiam o enfrentamento da dor. Os sentimentos não
são extintos quando os negamos, eles ficam guardados num “quartinho obscuro da
psique” e vêm a tona com toda força quando uma nova situação nos desperta
emoções iguais ou semelhantes. O não enfrentamento também costuma gerar
comportamentos inadequados na vida adulta, perda de controle, e doenças.
Sendo assim, como você escolhe lidar
com seus sentimentos querido leitor? Enfrentamento, anestesia, negação, fuga ou
adoecimento? Deixe sua colaboração no espaço para comentários abaixo!
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura:
1. foto extraída do site: http://www.morguefile.com/search/morguefile/1/emotion/pop
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Instigante convite a pensarmos em nós mesmo e em nossos sentimentos... Não é fácil o exercício de autocompreensão, mas é possível!!!
ResponderExcluirIsso mesmo Verônica
ExcluirNão é fácil mas é possível! Precisamos estar atentos a ter essa consciência no dia a dia.
Agradeço seu comentário
Abraço,
Adriana
Ótima reflexão e formação.
ResponderExcluirObrigada Cleide!
ExcluirAgradeço seu comentário!
Abraço
Adriana
Bom dia, Adriana. Também sou psicóloga é quero te parabenizar pelo texto, muito bom.
ResponderExcluirOlá Fabiana
Excluirobrigada! Fico feliz que tenha gostado do texto!
Um abraço
Adriana
Parabéns pelos textos! Excelente trabalho!
ResponderExcluirMuito grata Kênia
ExcluirFico feliz que tenha gostado!
Um abraço
Adriana
Olá querida Adriana!
ResponderExcluirAdorei o seu post!
Tomo antidepressivo/ansiolitico porque tive uma ansiedade absurda em fevereiro e sintomas de depressão desde a adolescência. Minha terapeuta pediu que eu fosse a um psiquiatra e eu, na hora, achei um absurdo, pois compartilho da sua opinião sobre a indústria dos psicofarmacos em geral. Mas hoje, algum tempo após o início do tratamento, me sinto muito melhor! Não parei a terapia, pois quero não precisar mais do remédio um dia. Mas o que quero dizer é que no meu caso foi difícil reconhecer e tratar minha depressão, pois ela é sutil, mas em crises me causou estragos. Nesse caso, me surpreendi com o fármaco, que não vejo como uma anestesia, mas sim como uma forma de reorganizar meus neurotransmissores para que eu me sinta viva, reaprendendo a sorrir ou chorar, lidando melhor com as emoções de forma geral, vivendo lutos constantes daquilo tudo que passei em ao longo de minha história, porém, não vivenciando pânico e depressão em função disso.
Resisti muito aos fármacos, mas hoje, felizmente, me sinto sem aquela angústia que me dominava de tempos em tempos onde eu não via sentido da vida.
Você não acha que nesses casos os psicofarmacos ajudam?
Abraço e parabéns pelo blog! Adoro demais!
Olá Sr(a) Anônimo,
Excluireu não costumo publicar textos sem nome, mas como seu comentário foi bacana, resolvi publicar.
Eu não sou contra a medicação, e muitas vezes indico meus clientes para fazer tratamento Homeopático e também Psiquiátrico. Existem casos nos quais as disfunções emocionais têm fundo biológico sim, sendo doenças que precisam de tratamento químico.
O que questiono no post é o uso indiscriminado das medicações, com a negação dos aspectos psicológicos-emocionais, familiares e sociais do indivíduo, e a incompetência de muitos profissionais da área, para fazer um diagnóstico adequado. Ouço muitos casos de clientes meus que vão ao consultório psiquiátrico apenas para pegar receita. Não há uma escuta e uma avaliação contextual e familiar da maioria deles. Infelizmente muitas pessoas aceitam esses tipos de tratamento pois desconhecem um bom profissional. Temos uma lógica médica-medicamentosa social muito forte.
Que bom que você está fazendo os dois tratamentos. Assim sua melhora vai ser mais ampla, tanto emocional quanto biológica.
Agradeço sua contribuição e carinho
Abraço, Adriana