MULHERES QUE DETESTAM SEU CORPO
“Como mulheres, somos ensinadas a detestar
nosso corpo e nos desligarmos dele”. (p. 193).
Lendo o livro “O Jogo da
Dissimulação” de Harriet Goldhor Lerner, tirei essa frase citada acima, e tive
a ideia para escrever este post, fazendo uma reflexão sobre a problemática da
relação da mulher com seu corpo.
Infelizmente, desde pequenas, somos
bombardeadas com informações negativas sobre nosso corpo e nossa sexualidade. A
família, a sociedade e a cultura podem ser extremamente cruéis com a mulher,
prejudicando enormemente sua relação com o próprio corpo e com o prazer.
Lembro-me de ter me identificado
muito com o seriado/novela “Betty – a feia”, na época da minha adolescência.
Isso já era resquício de uma educação crítica que recebi em relação ao meu
corpo, comportamento e vestimentas, acentuada pelos meus dentes tortos (antes
do aparelho), e com a imagem comparativa que tinha com minhas colegas de
colégio, comparação esta que me diminuía é claro. Pra piorar minha situação, eu
não era muito popular entre os meninos, e só fui dar meu primeiro beijo bem
mais tarde do que minhas colegas. Eu me achava e me sentia a feia. Olhando as
minhas fotografias daquela época, consigo enxergar hoje que não havia nada de
errado comigo nem com minha aparência, mas sim com meu sentimento de valor e
autoestima.
É certo que a adolescência
intensifica as emoções e muitas das nossas percepções são distorcidas. Porém,
vivemos numa sociedade que supervaloriza a imagem, especialmente a imagem da
mulher. Então, essa distorção não é uma característica somente de adolescente,
mas uma construção que afetam também das mulheres jovens, adultas e idosas.
Peguemos o exemplo do carnaval. A beleza e exuberância da
mulher brasileira, semi-nua, nos desfiles de carnaval, reflete uma imagem da
mulher bonita e gostosa, e extremamente sensualizada. Imagem esta que negativamente permeia
os cenários internacionais e sua visão sobre nós brasileiras. Essas mulheres “perfeitas” viram modelos de beleza
coletivos, e praticamente inalcançáveis para uma mulher comum, que não dedica a
vida ao corpo como aquelas.
Observemos também os desfiles de moda. Nestes, o padrão de
beleza é o oposto, estando associado a magreza, também quase inalcançável para
a mulher brasileira comum.
Não podemos deixar de ressaltar a
poderosa indústria estética, e suas
diversas promessas de consertar o corpo feio. Desde o campo da cirurgia
plástica, passando pelo campo dermatológico e cosmético, até os procedimentos
estéticos que hoje possuem uma tecnologia avançada, vemos ser produzida uma ideia de insatisfação para
o corpo da mulher.
Sem esquecer também da indústria fitness, que também tem um grande poder na atualidade. Muitas promessas tipo "chás seca barriga", "hormônios pra crescer", e diversos suplementos e produtos da moda, além da busca pelo corpo perfeito nas academias e esportes da vida.
Por outro lado, também temos religiões que até hoje produzem uma
ideia repressora contra a sexualidade. O sexo antes do casamento ainda é visto
como pecado, e a virgindade, especialmente a da mulher, é ressaltada como um
marco valorativo maior. Essa crença não impede o exercer da sexualidade, mas
promove muitas vezes uma atuação da mesma de forma inadequada e com sentimentos
negativos a respeito do corpo.
Precisamos lembrar também de toda a
história machista e patriarcal, que
oprimiu e violentou – a ainda oprime e violenta - o corpo das mulheres. A lei
Maria da Penha só foi sancionada em 7 de agosto de 2006, ou seja, no século
XXI, e com muita luta por justiça. O pior dessa cultura é que está tão arraigada
em nosso inconsciente, que muitas vezes é a própria mulher quem se torna
machista e reproduz uma educação machista com os filhos e filhas, perpetuando
assim, uma perspectiva de abuso contra o corpo da mulher.
Por último, gostaria de ressaltar a não permissão para envelhecermos.
Associada com a indústria estética, criamos mil e uma estratégias para adiar,
evitar ou impedir o envelhecimento. Criamos várias máscaras para parecermos
mais jovens. Envelhecer é feio dentro de uma sociedade tão vaidosa, e não
podemos envelhecer em paz, é uma guerra em busca de uma eterna juventude.
Como não ser presa fácil dessa
cultura? Como retirar de nossas mentes essa ideia completamente adoecida sobre
nossos corpos? Há que se ter uma autoestima muito saudável para sobreviver a
todo esse massacre.
Nos tornamos adultas e nem
percebemos que estamos repetindo toda essa construção opressora contra nossos
corpos. Somos exigentes, temos que ter o corpo perfeito, sermos boas de cama,
boas esposas e mães, darmos conta de todas as tarefas diárias e com excelência,
sermos profissionais de sucesso e reconhecimento, e ainda estarmos sempre
alegres e bem dispostas.
O problema não é somente a violência
que sofremos. O maior desastre é a violência
que impomos contra nós, nosso corpo e nossa sexualidade.
É lamentável que uma das
consequências mais trágicas dessa construção da insatisfação seja uma
desconexão com o corpo, fonte de sabedoria e de autoconhecimento. Quando temos
uma boa relação com nosso corpo, aprendemos a ler suas sensações e emoções e a
utilizá-las a nosso favor. O corpo é sábio! Ele nos sinaliza quando uma escolha
é boa ou ruim para nossas vidas, em forma de conforto, desconforto, saúde e
doença.
Precisamos resgatar essa conexão. Eu
não vejo alternativa nenhuma a não ser desenvolvermos um ponto de vista crítico, onde paremos para nos perguntar: eu
realmente preciso disso? Eu realmente desejo isso? A quais ilusões estou
associando esse comportamento na busca da minha felicidade?
Mulheres! Não aceitemos passivamente
a produção da insatisfação corporal em nossas vidas! Não aceitemos que detestar
nossos corpos é algo normal. Vamos questionar as crenças que nos
iludem e oprimem e buscar desenvolver um relacionamento mais saudável e amoroso com nosso corpo!
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura
1 - foto extraída do site:http://artodyssey1.blogspot.com.br/2014/03/samet-dogan-samet-dogan.html
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As mídias tem total influência nessa construção do que 'é belo e aceito' e a maior parte das mulheres, e me incluo nessa maioria, em algum momento na vida se deparam ou já se depararam se inspirando em alguma modelo, atriz e outras para ter o 'corpo perfeito', na ilusão que existe um padrão a seguir pra ser bem aceita pela sociedade. Hoje estamos vivenciando um momento FITNESS no mundo onde o lema é ter saúde e ir a academia já não é considerado só vaidade ou falta do que fazer, mas até que ponto é isso mesmo. Será se a grande parte ainda não busca a perfeição?? Tenho duvidas. Parabéns pelo texto Adriana Freitas.
ResponderExcluirObrigada Fernanda,
Excluiressa influência é muito forte mesmo! Temos que estar atentas para não cairmos nessas garras. Nosso corpo merece ser amado e não odiado!
Agradeço seu comentário
Um abraço
Adriana
Tem um pensamento de um sabio que diz:Mente sa corpao.Se a pessoa esta bem com ela mesma.Exercicios sao execentes para o corpo mas se a pessoa nao esta legal na mente .Acredito que essa pessoa precisa se harmoniza com sua mente primeiro para que depois ela possa se harmonizar com os demais exercicios.
ResponderExcluirIsso mesmo Osirlei
Excluirprecisamos integrar os cuidados com o corpo e com a mente. Um não vive sem o outro! E ambos precisam de cuidados da mesma maneira.
Agradeço por deixar seus comentários
Abraço
Adriana
Obrigado Dra Adriana pelo seu texto .Tem me ajudado muito a tirar duvidas tb .ok.
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