FELICIDADE SEM FORMATOS
Recentemente tenho questionado muito
sobre a possibilidade de casar, ter filhos e formar uma família. Especialmente
sobre essas relações como sendo uma forma essencial para se alcançar a
felicidade na vida.
Até os meus 30 anos, esse era o
sentido da minha vida, quando fui assolada por uma crise existencial: e se eu
não conseguir casar e ter filhos? E se isso nunca acontecer? Caí num vazio
enorme, sem saber que sentido daria a minha vida. Com a ajuda do meu terapeuta,
fui redefinindo a ideia de sentido de vida e passei a voltá-lo para meu
interior, me conhecer mais, melhorar minhas dificuldades, buscar crescer,
aprender e evoluir na vida como pessoa, etc.
Hoje, aos 36, compreendo que aquele
desejo era tão intenso por ser uma necessidade de compensar a minha história
familiar e o meu passado. Na medida em que venho aprendendo a cuidar de mim
mesma, essa necessidade diminuiu muito a ponto de hoje estar questionando o
casamento e a família como formas fundamentais de realização e felicidade.
O que quero dizer com isso, não é que essas instituições nem o desejo de vivê-las sejam ruins, mas sim que
somos educados numa família, sociedade e cultura que tem pressupostos do que é
certo e errado, bom ou mau, e que ao viver sobre o teto dessas influências,
vamos internalizando seus valores como normais, sem questionar se esses valores
nos atendem e nos fazem felizes. Na maioria das vezes são esses conceitos os que mais limitam nossa felicidade.
O casamento e a família como
formalidades, podem não atender a realidade e necessidade de algumas pessoas,
mas elas acabam sofrendo e ficando infelizes quando não alcançam esse objetivo,
pois ficam a margem do que o social delimitou como sendo melhor.
O que estou descobrindo atualmente,
é que sou totalmente a favor de uma felicidade sem formatos pré-definidos por
pessoas e estruturas sociais externas e generalistas. Se não limitarmos a
felicidade, ela pode chegar as nossas vidas por diversas pequenas coisas, todos
os dias.
Além de não bloquearmos a felicidade com nossas limitações, também pensei em dois princípios, que acredito serem fundamentais para facilitar a
construção de uma vida mais digna, plena e feliz:
A Busca de Coerência
Ser coerente seria esforçar-se para
agir conforme você pensa e sente. Integrar os três pilares do triângulo: Pensamento, Sentimento e Ação. Falando
assim parece muito fácil, mas é uma das tarefas mais difíceis em nossas vidas.
Infelizmente fazemos muitas
concessões que são indignas para nossa integridade maior. Quantas vezes fazemos
coisas que não acreditamos, ou que agridem nossos valores, para conseguir ou
manter o amor do outro? Como não ter nossa autoestima prejudicada por isso?
A grande possibilidade de ser
coerente é quando colocamos o amor por nós mesmos em primeiro lugar, e quando
aceitamos que o outro pode não nos amar quando nos mostramos como somos.
Acredito que toda incoerência gira
em torno da nossa necessidade de sermos
amados, e das estratégias que usamos para conseguir esse amor. Buscamos
fazer o que achamos que o outro vai gostar e dessa forma colocamos uma máscara
para tampar nosso eu, que julgamos pior e inferior.
Como ser feliz dessa forma, se
rejeitamos a nós mesmos? A felicidade só é possível se há aceitação do eu, com
todas suas deficiências, mesmo que haja desejo de mudança das partes que não
gostamos. Não é a rejeição do eu que promove mudanças, mas sim a aceitação.
É também na busca por coerência, que tentamos nos conhecer melhor para compreender o que são nossas verdadeiras necessidades mais profundas, para que possamos fazer o melhor para atendê-las. O processo de atender nossas necessidades nos deixa mais seguros e confiantes em nossa capacidade de cuidar de nós mesmos, e por consequência sentiremos a felicidade em crescimento.
A Aceitação da Realidade
Além da aceitação do eu, precisamos
lidar com a realidade como ela nos apresenta. Vivemos uma briga constante com
nossa realidade externa, pois criamos uma expectativa fantasiosa sobre como ela
deveria ser, e passamos uma vida sofrendo e tentando encaixá-la em nossos
formatos pré-estabelecidos de certo e bom.
Aceitar a realidade também não
significa que não devemos desejar mudá-la. Significa compreendermos que para
haver mudanças, muitas vezes precisaremos passar por um processo de construção,
a longo prazo e com muito esforço, para alcançá-las. É a saída do pensamento
mágico infantil, para o pensamento realista adulto.
E também precisaremos aceitar que
algumas vezes, por mais que nos esforcemos muito, nossos objetivos não serão
alcançados e nem sempre isso tem uma explicação racional e compreensível.
Só que no meio do caminho, caímos e levantamos, amamos e
odiamos, rimos e choramos, sofremos e fomos felizes, e aprendemos muito sobre
nós mesmos e sobre a vida.
Apenas na aceitação da realidade
podemos saborear os frutos oferecidos pelo momento presente.
Assim, uma Felicidade sem Formatos
seria viver o caminho da busca de coerência, aceitando a realidade e
desfrutando o momento presente, enquanto você trabalha em direção aos seus
objetivos e desejos maiores de vida. Seria não limitar a própria felicidade a
esquemas pré-definidos por outras pessoas e nem por você mesmo.
Se esse texto de tocou de alguma
forma, estimado leitor, deixe seu comentário no espaço abaixo! Será um prazer
continuar essa conversa.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
* As ideias contidas nesse texto não são originais minhas, mas são baseadas em estudos que realizei sobre o tema. Veja as referências no link Indicação de Livros.
Referência da Figura
1 - retirada do google imagens
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Adoro os seus textos, eles me inspiram...
ResponderExcluirEu tenho 28 anos e sofro quanto a esse "padrão de felicidade", tenho o desejo de formar uma família, mas isso está muito longe da realidade,pois não encontro alguém disposto a um relaciomento sério, e isso me deixa muito angustiada, mas as vezes eu tbm penso como vc, e se nunca aparecer? Minha vida vai terminar por causa disso? Poxa,eu tenho tantos outros sonhos para construir!
Olá Renata,
Excluircomo é difícil pra gente viver esse desejo e ficar frustrada pela falta de resultado! Também me questionei muito como você. Acho que precisamos estar abertas pra viver o que a vida nos oferecer, e não fazer do nosso desejo uma obrigação rígida e limitada.
Agradeço por deixar seu comentário de coração aberto!
Abraço
Adriana
Interessante seu texto. Observo com pacientes que se busca uma "felicidade falsa", por estar fundamentada em pressupostos que não se encontram alinhados com o self.
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