DESAPEGO
REFLEXÕES SOBRE APEGO E DESAPEGO
Esta
semana, conversando com um amigo que estava de mudança pra outro estado, fiquei
pensando sobre a questão proposta no título. Na minha visão externa, ele seria
uma pessoa muito desapegada para conseguir fazer essa mudança, pois foi por
vontade própria, sem emprego fixo certo, e não tinha problema algum que justificasse sua ida, apenas
seu desejo. Deixou pra trás amigos e clientes, sem lamentações e com alguma
saudade.
Mas
acredito que a questão seja um pouco mais complexa. O apego e o desapego não
são apenas características intrínsecas da personalidade de um indivíduo. Precisam
também ser contextualizados no tempo e no espaço uma vez que certas
experiências demandarão uma ou outra postura, independentemente do desejo do
indivíduo.
Talvez
possamos falar em experiências de apego e de desapego, e possamos refletir
sobre qual experiência precisamos viver e aprender no momento presente.
Profissionalmente,
no meu caso por exemplo, como meu trabalho de terapeuta precisa de um processo
a longo prazo pra construir uma clientela maior, eu posso me considerar muito
apegada ao lugar que cheguei hoje aqui em BH. Por outro lado, já comecei um
processo de desligamento do meu trabalho em Divinópolis, minha cidade de origem
onde ainda trabalho, e meu desapego está relacionado ao cansaço de ter que viajar
com frequência desde 2007. Mas como meu amigo, mudar para outra cidade ou
estado seria muito difícil pra mim também por uma questão de sobrevivência.
Consegui me sustentar em BH nos primeiros anos porque tinha o trabalho de
Divinópolis, mas ir para outro lugar, trabalhando apenas como
terapeuta, e sozinha, geraria um problema de sobrevivência.
Dessa
forma precisamos considerar que a experiência de apego pode estar muito ligada
a uma questão de Sobrevivência,
física e emocional. Alguns casamentos falidos se sustentam ao longo do tempo
muitas vezes em função da sobrevivência financeira, quando um dos cônjuges não
trabalha e depende do trabalho e dinheiro do outro. Assim também acontece com
outras relações que se sustentam porque os indivíduos são extremamente
dependentes e não conseguem viver sozinhos. Preferem ficar em relações
abusivas, agressivas e violentas na medida em que ficam completamente
apavorados com a solidão.
Outra
experiência de apego se refere ao Material.
Muitas pessoas investem toda sua energia em possuir bens de consumo duráveis e
não duráveis. Por trás desse tipo de apego podemos encontrar questões como a
necessidade de status, sendo esta uma busca por conseguir o reconhecimento alheio e por
ser valorizado pela quantidade ou qualidade das coisas que possui. Também
existe o apego material pela necessidade de segurança através do acúmulo de bens,
que também esconde o medo de passar falta e a insegurança interna. Há também a
experiência dos acumuladores compulsivos, que está mais ligada a problemas
emocionais do passado os quais são “anestesiados” com a referida compulsão, e o
possível esvaziamento do acumulado só aconteceria se houvesse a possibilidade
de encarar o buraco emocional.
O
apego a uma Fantasia Idealizada é
algo que todos nós vivemos, como a idealização de pai e mãe, de parceiro, de
filhos e família. Sonhamos com um tipo de vínculo amoroso e projetamos isso nos
nossos relacionamentos. No entanto, nosso desejo não condiz com a realidade
humana e passamos uma vida tentando fazer as pessoas próximas se encaixarem aos
nossos ideais.
Por
falar em família, um outro apego muito repetitivo refere-se aos Padrões da família de origem, que representam
uma lealdade ao que aprendemos, mesmo que muitas vezes esse aprendizado vá
contra nossos próprios desejos atuais. Tal apego nos aprisiona de forma inconsciente,
na maioria das vezes, o que dificulta muito nossa percepção consciente e
possibilidade de mudança.
Quando
possuímos um conceito de amor muito ruim, quando o amor em nossas famílias
estava relacionado a distância afetiva, abandono, agressão ou violência,
podemos desenvolver um apego ao Sofrimento,
que pode nos levar a buscar situações problemáticas, de forma compulsiva.
O
apego por Amor talvez seja um dos
mais saudáveis, desde que os indivíduos não utilizem da ideia de amor relacionada
a dependência, justificando todas as tentativas loucas de aprisionamento do
outro. Este apego está ligado a uma interdependência onde o afeto transita numa
via de mão dupla numa relação de troca. Há confiança, entrega e segurança, sem
necessidade de prender ou aprisionar o outro.
A
experiência do desapego, como a do meu amigo citado no início, soa muitas vezes
como uma maior capacidade de um indivíduo para a Liberdade. Mas nem sempre isso é real. Muitas vezes o desapegado se esconde atrás de uma
dificuldade ou incapacidade para vincular-se com outras pessoas e de se
entregar nas relações afetivas de amor e de amizade. Dessa forma, uma pessoa
apegada pode estar mais livre pra amar e se entregar do que outra desapegada.
A pessoa que parece mais desapegada a alguma questão específica, com certeza será apegada a outra. Por exemplo um homem que não quer se comprometer seriamente num relacionamento porque quer aproveitar a vida, pode estar apegado a uma ideia de liberdade que existe em ser solteiro, ou a uma ideia don-juanesca de conquista, ou ainda numa necessidade de afirmação da masculinidade via sexo.
Portanto, não existe uma pessoa completamente desapegada. Ela só parecerá mais desapegada se o seu desapego for em algum tema culturalmente ou socialmente fora do padrão. Seus verdadeiros apegos ficarão ocultos uma vez que não são evidentes nem conscientes pra ela nem ao olhar do outro.
A pessoa que parece mais desapegada a alguma questão específica, com certeza será apegada a outra. Por exemplo um homem que não quer se comprometer seriamente num relacionamento porque quer aproveitar a vida, pode estar apegado a uma ideia de liberdade que existe em ser solteiro, ou a uma ideia don-juanesca de conquista, ou ainda numa necessidade de afirmação da masculinidade via sexo.
Portanto, não existe uma pessoa completamente desapegada. Ela só parecerá mais desapegada se o seu desapego for em algum tema culturalmente ou socialmente fora do padrão. Seus verdadeiros apegos ficarão ocultos uma vez que não são evidentes nem conscientes pra ela nem ao olhar do outro.
Diante de todas essas questões, o
desapego ou o apego por si só, não são bons nem ruins. Eles precisam ser
contextualizados na história e no contexto de vida atual do indivíduo. Enquanto
algumas pessoas precisam aprender a experiência de desapego, outras precisarão
experimentar o apegar-se a alguém ou algo, como possibilidade de crescimento na
vida.
É preciso ter coragem para apegar-se
ou desapegar-se, é preciso ter coragem de correr o risco. Qual é a sua
necessidade, estimado leitor? Compartilhe conosco deixando seu comentário no
espaço abaixo!
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura
1 - retirada do google imagens
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