VAMOS SAIR PRA JANTAR?
Conheci
mais uma doce andorinha (conferir post “A Andorinha e a Rosa”). É fato
consumado: minha atração pelos homens andorinhas migratórias. Provavelmente eu
ainda não conquistei definitivamente minhas próprias asas e acabo buscando as
asas alheias.
O
fato é que uma certa andorinha, que está prestes a voar para viver o verão em
outros ares, me convidou pra jantar. E quanto tempo fazia que eu não recebia um
convite desses!!! Com muita alegria e prontidão eu aceitei, claro!
Um
convite pra jantar é muito diferente de um convite pra ir num bar, boteco, ou
balada. Ele me remete a um desejo de intimidade. Quero te conhecer, saber quem
você é, conversar. Quero que você me conheça, saiba meus projetos, minhas
conquistas e minha forma de viver.
Utilizando
essa ideia como metáfora, “Convite Jantar” e “Convite Boteco”, notamos que infelizmente,
o padrão mais recorrente é o dos “convites boteco”. Estes levam mais
rapidamente ao final desejado: o sexo, principalmente se o encontro for bem
regado a álcool. Nestas situações não existe muito aprofundamento na
intimidade. As conversas são rasas apesar de alegres e divertidas, tendo
portanto seu valor.
Já
no “convite jantar” está implícito um desejo de aprofundamento, o que não
significa que irá acontecer. As vezes o encontro se dá entre pessoas
diferentes, um que deseja e outro que não deseja a intimidade aprofundada.
Que
fique claro aqui, que a ideia de intimidade que estou usando não está
relacionada a sexo, confusão conceitual muito comum. Está sim ligada a
autorevelação e ao conhecer o parceiro, incluindo assim o compartilhamento de
ideias, mas principalmente de sentimentos (conferir post “Intimidade não é sexo”).
O
meu encontro com a andorinha foi bastante correspondente ao “convite jantar”.
Mas infelizmente o tempo de um encontro apenas é bem pequeno. A intimidade que
conseguimos construir ainda ficou rasa, pois o aprofundamento requer tempo.
Geralmente quando conhecemos alguém, buscamos na sedução, mostrar nossas
melhores partes. Os defeitos só vão aparecendo com a convivência, e é quando a
intimidade é mais colocada em xeque. Nos apaixonamos pelo ideal de parceiro que
temos, e quando chega a realidade, ao invés de investirmos mais para extrair da
relação o que ela pode ter de bom, acabamos “pulando fora do barco” ou continuamos na relação, mas de uma forma indigna.
Construir
intimidade é um grande desafio. É preciso muitos “convites jantar” ao longo do
tempo.
Eu
fico impressionada em quantas pessoas, homens e mulheres, reclamam que não
conseguem ter um relacionamento na atualidade. Existe um desencontro que, em minha opinião,
acontece muito porque as pessoas não agem conforme seus verdadeiros desejos.
Elas dizem que querem encontros “jantar”, mas se comportam sempre (ou acabam
aceitando resignadas) como se quisessem encontros “boteco”, ou seja, o
comportamento não é coerente com o desejo e o pensamento.
Por
outro lado, como o autor Flávio Gikovate escreve em seu livro “Uma nova visão
do amor”, existe uma série de fatores antiamor que são formas inconscientes de
boicotar o amor, que o próprio indivíduo faz contra si mesmo, dentre eles o
medo de ser feliz. Isso é mais comum do que imaginamos, pois muitas vezes
entramos em processos compulsivos de repetir o conceito de amor que recebemos
da nossa família de origem, e este conceito pode ser muito negativo. Assim acabamos infelizes por pura lealdade familiar inconsciente.
Outro
problema é que “convites pra jantar” caíram em desuso. Como disse acima, não
sei quanto tempo fazia que eu não recebia um desses. Vivemos a cultura da
ansiedade, do imediatismo e do descartável, o que não combina muito com viver
um processo de aprofundamento e construção de intimidade, pois estas coisas
levam tempo e requerem muita dedicação.
Outras
culturas vivem isso com maior facilidade. Sempre assisti em filmes e ouvi
relatos de amigos que foram viver no exterior (EUA e Europa), que as pessoas,
quando interessadas em alguém, sempre convidam seus parceiros em potencial para
jantar, e vão se conhecendo aos poucos até definirem se entram ou não numa relação. Tem também o livro da Sobonfu Somé, "O espírito da intimidade", que fala desse tema do título numa visão da cultura africana.
Acredito
que precisamos definir quem somos em primeiro lugar e agir coerentemente com
nós mesmos. Eu sou o tipo de pessoa para “encontros jantar”. E você, estimado
leitor?
Sobre
a doce andorinha do jantar, pena que ela está alçando voo para ir-se embora.
Esta é uma daquelas situações quando a gente lamenta pela “vida não vivida”,
tudo aquilo que ficou apenas no desejo, mas que não aconteceu, infelizmente.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura
1 - retirada do google imagens
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