MORAR SOZINHA(O)
Infelizmente
nossa cultura ainda é bastante protetora, se é que podemos chamar isso de
proteção, atrasando muito a saída dos
filhos de casa, com uma maior permissão de saída apenas para estudar ou
para casar. Podemos pensar em quantas famílias incentivam seus filhos a saírem
para morar sozinhos, e não encontraremos um único exemplo, no melhor das
hipóteses alguns poucos.
Quando
eu consegui concluir meu planejamento para sair da casa da minha mãe para morar sozinha, escutei frases assim:
“você não está dando certo mais com sua mãe?” e “como tem a coragem de
abandonar sua mãe?”. Ou seja, a saída de casa de um filho adulto para viver só,
tem conotações negativas infundadas, reforçadas pelas famílias e pela sociedade.
Felizmente
eu sempre tive um espírito buscador da independência, e desde bem cedo eu
queria ter o meu cantinho. Somente há pouco mais de cinco anos, quando eu
estava por volta dos 30 anos, foi que tive condições de fazer o meu sonho se
tornar realidade, após alguns anos de preparação.
Sim,
é necessário se preparar. A não ser
que você seja rico ou receba super bem pelo seu trabalho, juntar dinheiro para ter seu espaço demora um bom tempo.
São muitos detalhes de cama, mesa, banho, móveis, eletrodomésticos e
eletroeletrônicos, além do aluguel ou financiamento.
Diferentemente
do casamento, a sociedade não ajuda muito quem vai morar sozinho. Ganhei um
fogão da minha tia e minha mãe me emprestou uma mesa e me deu um conjunto de
panos de prato, um forro de mesa e alguns cobertores. O restante ficou por
minha conta e até hoje ainda preciso fazer melhorias no meu espaço.
Não
ter muita ajuda, por outro lado, foi também uma escolha, pois eu queria comprar
as coisas do meu jeito, com a qualidade que eu desejava. Eu queria escolher
como minha casa seria. E hoje, por mais incompleta que esteja, minha “casinha”
é aconchegante e a minha cara.
Após
minha mudança, como eu não saí para estudar e, portanto não fui sustentada pela
minha família, o primeiro sentimento que tive, ao constatar que eu estava
conseguindo ter a minha vida completamente por minha conta, foi uma grande competência para gerir a própria vida.
É imensamente prazeroso ter a certeza de que você consegue cuidar e administrar
sua vida completamente.
Quando
as pessoas saem para casar, talvez elas sintam um pouco disso, mas não devem
sentir plenamente, pois dividem as contas da casa, desde que seja um casal
minimamente saudável. Então, morar sozinha(o) pode ser um importante passo para
o crescimento do indivíduo e para sua autoestima.
Ao
ver que eu estava conseguindo gerir minha vida de forma independente, meu
sentimento de confiança em mim mesma
aumentou e consequentemente o sentimento de segurança. Isso refletiu no meu trabalho, que foi também ficando mais
seguro e consistente. Assim, também tive um crescimento profissional e
financeiro.
Por
outro lado, é também muito bom ter seu espaço
do seu jeito. Na casa da minha mãe, a casa é do jeito dela e tem a energia
dela, e mal mal eu comandava meu próprio quarto. Minha forma de ser é diferente
da minha família, então minha “casinha” passou a ter a minha energia a medida
que sou eu que a organizo e cuido.
E
também, como na minha casa mando eu, entra
e sai quem eu quero e desejo, e eu entro e saio no meu tempo, de acordo com minhas
necessidades e vontades, sem ter que pedir ou dar satisfações. Sendo assim, tenho
mais controle e liberdade. As regras são minhas e eu posso mudá-las sempre que
precisar, diferentemente da casa da família de origem, onde as regras são dos donos,
e os filhos têm que respeitar, no máximo negociar.
Mas
nem tudo são flores. As responsabilidades
são muito grandes: contratos, aluguel, financiamento, condomínio, contas
diversas, manutenção da casa, datas de vencimento, aborrecimentos de coisas
imprevisíveis pra resolver. Tudo nas suas mãos. Se você esquece uma conta, pois
as vezes a memória falha, vai pagar juros e multa, não adianta choro nem
reclamações.
Mas
por que ainda vale a pena? Porque na
minha opinião, os ganhos são maiores que as perdas. Responsabilidades fazem
parte da vida adulta e precisaremos arcar com elas seja morando só, num casamento
ou junto da família. A não ser que você queria ficar criança ou adolescente – síndrome
de Peter Pan - para o resto da vida.
O
aprendizado também é tão grande quanto as responsabilidades. Este ano, como
contei no meu post de aniversário, passei por uma crise financeira muito
difícil, mas a partir dela pude aprender a exercitar a paz em momentos de crise.
Tive que resolvê-la, encontrando uma saída – empréstimo de dinheiro com minha
família – e depois buscar soluções criativas – realização do Workshop da
Criança Interna Ferida – para levantar o dinheiro para pagar as dívidas. E tudo
isso aumentou minha fé em mim mesma, fé na vida e no mistério divino.
Morar
sozinha(o) não tem que ser nem é a única forma de crescimento na vida, mas
deveria ser uma possibilidade mais
cogitada e incentivada pelas famílias. De toda forma, essa escolha precisa
perder suas conotações negativas de abandono familiar e parca solução para
relações que não dão certo. É uma forma muito digna de viver que facilita muito
o aprendizado e o crescimento pessoal.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Instagran: @solteirosecasais
Referência da Figura
1 - retirada do google imagens
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