DITADURAS CULTURAIS PARA HOMENS E MULHERES
Vivemos imersos numa família, que
por sua vez está inserida numa sociedade que possui padrões culturais normativos. Tais padrões, ao mesmo tempo em que
organizam a vida em conjunto, são profundamente limitadores das experiências
humanas. E acontecem de forma subliminar, fazendo com que tenhamos (ou não
tenhamos) certas necessidades e comportamentos de maneira inconsciente, ditados
pela cultura, sem passar por um filtro de crítica e avaliação da nossa parte.
Ou seja, vamos vivendo as
expectativas do contexto onde vivemos e nem sempre paramos para pensar o que
realmente faz parte dos nossos desejos e das nossas necessidades mais profundos
e verdadeiros.
Na maioria das vezes, seguir
inconscientemente os ditames culturais nos faz pessoas infelizes e com um
profundo sentimento de vazio existencial. Precisamos aprender a questionar os
conceitos que fomos registrando desde a infância e buscar encontrar o que realmente
nos alimenta o coração.
A cultura define papéis muito
específicos para homens e mulheres. Apesar de estarmos numa era de transição
nas relações de gênero, favorecidas pelas lutas feministas e LGBT, muito ainda
somos influenciados pelo patriarcado e seus conceitos arbitrários.
A seguir, destaco alguns pontos das
ditaduras específicas em cada referencial, masculino e feminino, baseados na
minha observação e experiência clínica, sem me propor a esgotar o tema:
Ditadura
para os Homens
A cultura tem sido extremamente
severa para os homens no que se refere a afirmação
da masculinidade. O homem precisa provar o tempo todo que é homem, e as
principais vias de se fazer isso são através do poder (que pode ser
estabelecido com o dinheiro, o trabalho e a violência) e do sexo.
O que por um lado confere ao homem
uma maior permissividade de viver e uma maior liberdade para experimentar os
prazeres, por outro lado se torna uma grande prisão, pois nessa busca de
afirmação lhe é negado o direito de sentir e de ser frágil.
No que concerne a sexualidade, o homem precisa transar a
qualquer custo, mesmo que não sinta desejo pelo “objeto” (seja homem ou
mulher). E caso negue por não haver desejo, sua masculinidade costuma ser
questionada. Já ouvi muitas histórias de mulheres que acharam que os homens
eram gays por não querer transar com elas, além de histórias onde os próprios
amigos questionam e criticam uns aos outros quando isso acontece.
Já em relação ao poder, vemos uma busca
compulsiva pelo dinheiro, muitas
vezes através do trabalho, fazendo com que os homens fiquem bitolados nesse
único contexto de vida. A exigência de ganhar dinheiro faz com que os homens
busquem e se estabeleçam em trabalhos que não amam, com a desculpa de serem o
melhor do mercado, e pelo contrário, acabam adoecendo.
E quando o poder lhes é questionado
ou retirado, a violência pode ser a
forma mais significativa de diminuir o outro para se impor como o mais forte. A
violência doméstica de homens contra as mulheres é um clássico exemplo dessa
imposição, assim como a violência das gangues de rua.
Dessa forma, apesar de conseguir uma
precária afirmação da masculinidade por essas vias, a subjetividade do homem
segue frágil e despedaçada, pois essa tentativa é superficial e não alimenta
nem fortalece internamente o homem de recursos psíquicos e emocionais
saudáveis. E assim o seu vazio existencial não diminui.
Ditadura
para as Mulheres
Já as mulheres são prisioneiras da
cultura que nos preconiza o papel materno, o casamento e a beleza/eterna
juventude.
É muito comum ouvir das mulheres que
passaram dos 30 anos, falas de desespero existencial quando não são casadas e
nem tem filhos. Desde cedo os valores do casamento
e da maternidade são incutidos
na cabeça das mulheres desde a perspectiva do patriarcado, como seu papel
social por excelência. Não cumprir esse papel é como se fosse um desastre e
desqualificasse seu sentido de vida.
Outro aprisionamento se dá pela via
da beleza e eterna juventude. Nós mulheres somos o público (alvo) mais voraz
dos cirurgiões plásticos. Fazemos
cirurgia em tudo enquanto é parte do corpo, buscando nos adequar ao padrão de
beleza vigente.
Além disso, somos nós as maiores
clientes de dermatologistas (e todas as outras profissões) esteticistas,
utilizando de suas mais diversas técnicas para retardar os sinais do
envelhecimento, sim, os sinais, porque o envelhecimento acontece todos os dias,
queiramos ou não.
Há ainda a ditadura das dietas. Com certeza você já deve ter
ouvido falar de alguma dieta maluca e se não a fez, deve ter feito alguma outra. Estas criam uma alimentação inadequada, restrita e com perda do prazer de comer.
E se a moda é fitness, a mulher se
sacrifica em nome de ter um corpo escultural, produzido nas academias e
clínicas estéticas de toda sorte.
Os padrões de beleza fazem de nós mulheres escravas bem obedientes e
inconscientes. Eu não falo da busca de exercícios e alimentação saudáveis. Eu
falo de mulheres que ficam bitoladas na busca de um corpo padronizado, ditado
pela sociedade em que vive, acreditando que não será feliz se não conseguir
essa façanha.
Tudo isso engana parcamente sua
autoestima, pois seu vazio existencial não irá se alimentar apenas dessas
estratégias de correção corporal externas.
Refletindo sobre essas ditaduras
culturais, podemos perceber que nossas buscas de adequação ao contexto externo
não nos traz alegria, bem estar nem tampouco a felicidade prometida. Precisamos
ter um filtro mental para avaliar se
essas exigências padronizadas se conectam ou não com as necessidades e desejos
mais profundos do nosso SER. Se não conectarem, estaremos perdendo nosso tempo
e energia investindo em tais padrões e precisamos urgentemente encontrar um
novo caminho!
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Referência das Figuras
1 e 2 –imagens retiradas do google imagens
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