DESAPEGO
Chegam
momentos na vida quando é preciso desapegar.
Desapegar das malas velhas, dos sapatos estragados apesar de adorados, das
roupas que não servem mais, dos amores findos e dos desejos não realizados.
Desapego
é uma palavra que mais dia menos dia irá nos enfrentar cara a cara, sem termos
de negociação, mesmo que doa ao coração.
Tem
relacionamentos que são assim, nos apegamos tanto que não sabemos sobre-viver sem
eles. Eles podem envelhecer, estragar, machucar, martirizar, adoecer,
desencantar, até apodrecer, mas continuamos lá, apegadíssimos aos restos
mortais.
Por
que é tão difícil desapegar mesmo do que está ruim ou no fim? Porque na
verdade, quando o relacionamento já morreu, continuamos apegados a fantasia do que ele foi um dia, suas delícias que
ficaram registradas na memória, ou a própria fantasia de onipotência, de nos
acharmos deuses poderosos capazes de ressuscitar o morto.
Outra
possibilidade é ficarmos viciados em
um modus operandi negativo, desprazeroso, que é bastante conhecido nas nossas
histórias de origem, individual e familiar, onde aprendemos que os padrões de
relacionamentos funcionam sempre no tanque vazio. Assim, tendemos a aceitar e nos apegar em relacionamentos ruins, repetindo nossas histórias de apego.
Nos
apegamos também as nossas próprias crenças
do que devia ser (mas não é): “casamento
é para sempre, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza”. Nos apegamos a
nossa teimosia de tentar sempre, mesmo quebrando a cabeça todas as vezes.
Também
ficamos apegados a uma ideia de não
podermos ser derrotados, como se admitir o fim do relacionamento fosse
perder o jogo, se sentir fracassado, e assim nos apegamos a uma disputa de
poder com o outro e com a vida, continuando a lutar uma guerra mesmo quando a
batalha já se acabou.
E
quando não há um relacionamento, nos
apegamos ao desejo de ter um, e fazemos da vida um inferno por não
possuí-lo. Tudo gira em torno da busca relacional. Ficamos apavorados com o
tempo que está passando e o relógio biológico que está correndo a galopes de um
cavalo selvagem. Enlouquecemos atrás de cartomantes, astrólogos, videntes, tudo
para ter a tão sonhada previsão positiva do futuro e desesperamos se a desejada notícia não está escrita em nenhuma carta, atro ou visão.
É
preciso desapegar! Quanto mais ansiedade
temos em relação ao objeto do nosso apego, menos chance ele tem de dar certo,
de funcionar, ou de acontecer em nossas vidas.
Desapegar é preciso, pois enquanto estamos fixados numa ideia específica, a vida nos está oferecendo inúmeras outras possibilidades, as quais estamos deixando passar todas, devido ao nosso aprisionamento em nossas viseiras conceituais.
Desapegar é preciso, pois enquanto estamos fixados numa ideia específica, a vida nos está oferecendo inúmeras outras possibilidades, as quais estamos deixando passar todas, devido ao nosso aprisionamento em nossas viseiras conceituais.
Reveja seus conceitos! Não seriam eles moldados por uma
ditatura subliminar da família, da sociedade, da religião ou da cultura sobre
como a vida deve ser? Não estariam eles desgastados e retrógrados para seu
momento atual? Eles não estariam limitando sua alegria, felicidade e liberdade potenciais?
Desapegue dos seus próprios conceitos! Crie outros novos!
Por
mais que doa, jogar as malas velhas fora é libertador! Vida nova pela frente.
Mas é preciso coragem pra enfrentar a dor do luto. Desapegue
também da dor ou melhor, do sofrimento, como diria nosso querido Carlos
Drummond de Andrade, “A dor é inevitável, o sofrimento é opcional”.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
em Belo Horizonte
Referência da Figura
1 –imagem retirada do google imagens
Nenhum comentário:
Postar um comentário