AMOR PLATÔNICO
Recentemente fui ao lançamento do
livro “Palavras de Poder – volume 3”, do autor Lauro Henriques Jr., que aconteceu
na livraria Saraiva do Diamond Mall em Belo Horizonte. Já havia lido os dois
primeiros volumes, “Palavras de Poder – volume mundo” e “Palavras de Poder –
volume Brasil”, que tratam de entrevistas que o autor fez com vários mestres da
espiritualidade e do autoconhecimento do Brasil e do Mundo. São livros que
contêm a essência do ensinamento de cada pensador e nos servem de aprendizados
valiosos.
Soube do lançamento pelo facebook,
pois sigo o autor na rede social, e logo decidi que iria, pois não poderia
perder essa oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. E de fato foi uma
experiência energizante poder conversar com ele um pouquinho durante o
autógrafo do livro.
Achei o Lauro uma pessoa com uma
energia maravilhosa, uma alegria e uma paz contagiantes, além de uma doçura no
olhar e no tratamento das pessoas que ali estavam e comigo. Veja a recente entrevista de Conceição Trucom - uma das entrevistadas do terceiro volume - com o autor para ter uma noção sobre o que falo e conhecer um pouco do trabalho dele:
Seja por admiração
ou por carência, fui acometida por um “leve acesso” de encantamento por ele, e
em seguida pensei que seria um amor
platônico.
“Que tolice a sua, Adriana” – foi o
melhor pensamento que tive a respeito dessa situação. Os piores eu nem vou
contar! Lembrei-me de quantos “amores platônicos” eu tive na adolescência –
praticamente a adolescência toda – e logo concluí que a minha adolescente interna resolveu dar as
caras escolhendo o “distinto” autor como alvo. Pensando em acolher minha querida
adolescente, eu comecei a pensar sobre o tema para escrever aqui no blog e quem
sabe alcançar uma elaboração emocional pra ela... ou melhor, para nós.
De acordo com minhas pesquisas, nas
principais definições populares, o amor platônico se refere a qualquer tipo
de relação afetuosa ou idealizada que se abstrai do elemento sexual, ou ainda alude
a um amor impossível, difícil ou que não é correspondido.
(Um parêntese - no caso, o meu amor
platônico abarcaria quase todas as características: idealizado, não sexual, impossível, difícil e não
correspondido, já que o “objeto amado” mora em São Paulo, não me conhece
pessoalmente para além do breve momento do autógrafo, jamais imagina “meu
sentimento” e, portanto não me corresponde).
Segundo a autora Renée Webber,
doutora em filosofia pela Universidade de Columbia e professora de filosofia na
Universidade de Rutgers – EUA, e estudiosa de Platão, em entrevista realizada por Scott Minners, o amor
platônico é um dos conceitos mais incompreendidos do filósofo, especialmente
nesta questão do amor considerado ascético e assexuado. Webber aponta que para
Platão o amor é um conceito cósmico, “é uma escada com sete degraus que vão do
amor por uma pessoa até o amor pelas realidades superiores do universo” (conf. entrevista
na íntegra), e que permanecer apenas no primeiro degrau é ficar paralisado em
comparação a tudo que a pessoa poderia vir ser.
Diante da complexidade filosófica do
tema, priorizaremos as definições populares, por serem as que estão mais
relacionadas com o imaginário popular quando falamos sobre a ideia do amor
platônico, mas fica o incentivo para a leitura da entrevista na íntegra devido
a sua riqueza de informações sobre o amor na filosofia de Platão.
Por que ter um amor platônico é uma
saída fácil? Primeiramente porque o nosso ideal de parceiro continua intacto,
já que ele não é questionado por uma realidade vivida. O príncipe segue sendo
príncipe eternamente e nunca vemos o lado sapo dele. Segundo, porque não corremos o risco de receber um não, de
sermos rejeitados ou abandonados. Na fantasia do amante platônico o amor é
perfeito assim como os diálogos internos estabelecidos, no entanto, ideal e
irreal. Acredito que a minha adolescência foi permeada por amores platônicos
exatamente por causa do medo da rejeição, já que eu tinha uma baixa autoestima,
o que pode ser muito comum para os adolescentes em geral.
Por outro lado, ter um amor
platônico é também uma saída difícil na medida em que o indivíduo fica preso
numa fantasia não realizada, numa vida não vivida. Seu amor não é recíproco e
então ele não recebe o amor em troca, e apesar da saída da realidade para “viver”
o amor platônico no plano das ideias, em um determinado momento, o vazio e a
falta de amor aparecerá como consequência da não realização do desejo. Ansiedade,
medo, culpa, depressão e angústia são sentimentos recorrentes para estes “amantes”.
A idealização é um fator importante no amor platônico assim como no
início de qualquer relacionamento, quando nos encantamos mais pelo ideal de
parceiro que temos do que pela pessoa real na nossa frente. A diferença é que
no amor platônico a chance de perder a idealização é menor pois não há relação
na realidade, e na vida real sim, pois o parceiro real irá inevitavelmente se
apresentando a nós.
Então, se pensarmos
superficialmente, seria uma grande
vantagem continuar tendo amores platônicos durante a vida: amores perfeitos,
não correr riscos, menos corações partidos.
Mas ter uma vida – ou pseudo-vida - amorosa
segura não significa ter uma vida amorosa feliz. No livro “Comer, Rezar, Amar”,
quando Elizabeth está em dúvida sobre viver seu amor por Felipe, a xamã Wayan
fala (no filme é o xamã Ketut quem fala) que as vezes, perder o equilíbrio por amor faz parte de ter uma vida equilibrada.
E eu estou de acordo! Como é bom
sentir o frio na barriga da época do encantamento, quando ainda não sabemos se somos
ou seremos correspondidos, ou quando escutamos um “eu te amo” pela primeira vez
num momento totalmente inesperado, ou quando fazemos amor intensamente, corpos misturados e entregues. E como é difícil viver o fim, o adeus de
alguém que ainda amamos, e sofrer todos os sentimentos de tristeza, melancolia,
perda de controle do choro, angústia, etc..
SENTIR, esta é a palavra “mágica”. Somente na realidade podemos de fato sentir. E
quem sente está vivo! Quem não sente já morreu, em morte ou em vida. Seja no
prazer ou na dor, vale muito a pena!
Texto
dedicado a minha adolescente interna.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
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Referência da Figura
1 – fotos retiradas por mim
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Olá, Adriana! Muito interessante o seu texto.
ResponderExcluirPrincipalmente pelo fato de você se abrir tão sinceramente.
Todos já tivemos algum amor platônico, mas poucos sabemos qual é a definição real disso. Seu texto deixou isso bem claro.
Parabéns!
Olá Diógenes,
Excluirobrigada por deixar seu comentário.
Verdade, todos nós já tivemos um amor platônico, a diferença é que com a maturidade a gente passa a saber que esse amor é apenas uma idealização do outro e fica apenas a admiração pela referida pessoa.
Um abraço
Adriana Freitas