CASADOS PARA SEMPRE ...
COM A FAMÍLIA DE ORIGEM
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Imagem de uma das cenas do filme "A História de Nós Dois" |
Não irei falar hoje de casamentos conjugais, mas sim do
importante vínculo familiar original de nossas vidas que, se não resolvido,
impede uma união saudável entre parceiros.
É na família
que vivemos nossos primeiros vínculos de
amor com as figuras parentais ou seus representativos. Há amores saudáveis
e doentios, sendo estes últimos os que mais aprisionam os indivíduos em
casamentos emocionais com a família de origem.
Destaco aqui dois afetos
doentios aprisionantes: 1) superproteção dependente e 2) falta de
afeto.
No primeiro, os
pais parecem cuidadosos até excessivos, mas no fundo são dependentes do carinho
e atenção dos filhos, demandando-os excessivamente ou deixando os filhos
culpados quando eles se afastam para realização de cuidados com a própria vida.
Estes tipos de pais são os mais difíceis de questionar, uma vez que parecem que
amam muito seus filhos, mas infelizmente eles são pessoas presas nas próprias
carências e exigindo amor dos filhos. Dessa forma, a culpa do abandono,
consciente ou inconsciente, é o sentimento que predomina para efetuar o
aprisionamento.
No segundo afeto
doentio, é a falta de amor e o desejo de conquistá-lo que irão aprisionar os indivíduos.
Pais distantes e também abusivos (todos os tipos de violência) não conseguirão
suprir as necessidades de amor dos filhos e os deixarão carentes e até mesmo traumatizados. Estes filhos
reagem na busca de perfeição para não contrariarem ou para serem vistos, na negação
do afeto através de uma falsa não necessidade e de uma não entrega para o outro, ou na reprodução da violência que
sofreram, perpetuando assim o distanciamento do outro e sua fome de amor.
Pais saudáveis deixam seus filhos livres para ir e voltar. Pais doentes não
liberam seus filhos para viver a própria vida tampouco para casarem. Filhos doentes ficam presos na não liberação dos pais. Assim, o casamento de filhos doentes até acontece em termos de rituais,
mas não acontece em termos emocionais, uma vez que os indivíduos estão casados
com a família de origem, seja na culpa, no falso afeto, na rejeição, no rompimento ou na busca de amor.
A imagem no início se refere a uma das cenas do
filme “A História de Nós Dois”, dirigido por Rob Reiner e estrelado por
Michelle Pfeiffer e Bruce Willis. Nela temos uma representação caricatural de
como os pais “habitam” a cama dos cônjuges. No filme o casal está vivendo uma
crise conjugal e trás a tona todos os padrões familiares repetitivos que estão
afetando e prejudicando a relação, mostrando como cada um deles está casado com
a família de origem.
Como este casamento familiar se dá na realidade do dia a dia? Há aqueles
casos explícitos onde o filho vai todos os dias na casa dos pais, almoça
junto, liga todos os dias, ou resolve todos os problemas da família de origem,
no entanto, deixa muito a desejar na própria casa. Costumam dizer "lá em
casa" se referindo a casa dos pais. Há também os casos mais implícitos
onde os indivíduos repetem os mesmos papéis que exerciam nas famílias, ou as
mesmas dinâmicas de relacionamentos dos pais e dos familiares. Ou também
repetem as mesmas reações emocionais que vivenciavam com a família.
Para se casar
emocionalmente com o cônjuge é necessário primeiro se separar da família
de origem. Uma tarefa bastante difícil, pois requer assumir uma série de
responsabilidades na transformação para o ser adulto:
o
desidealizar os pais, enxergando-os como
humanos e falhos
o
aceitar os pais reais que temos,
mesmo não concordando com eles, sem querer transformá-los nos nossos desejos
o
abrir mão ou transformar os papéis que ocupávamos e exercíamos na família de origem
o
não transferir para o parceiro a busca de amor que foi falha nos pais
o
assumir todas as responsabilidades pelas
próprias necessidades, sejam elas físicas, emocionais, intelectuais e espirituais
o
enfim, tornar-se pai e mãe de si
mesmos.
Os indivíduos vivem essa dinâmica de casamento emocional com a família de origem de forma
inconsciente e no casamento com o cônjuge não existe uma pessoa mais madura do que a outra. Ninguém
casa com alguém por acaso. Escolhemos parceiros semelhantes, com o mesmo nível
de separação emocional, ainda que na superficialidade
pareça o oposto.
Para a maioria dos casais que chegam ao meu consultório
buscando terapia de casal, eu costumo deixar a pergunta: vocês realmente querem casar
e pagar o preço da separação emocional familiar? Quando há o desejo, o
terapeuta pode contribuir, mas se não há, nosso trabalho fica limitado.
E você leitor, já realizou essa separação
emocional da sua família de origem? Deixe no espaço para comentários abaixo
suas impressões e sentimentos sobre o texto.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
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Referências das Figuras
1 – Imagem retiradas do google imagens
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Adorei este texto, aliás, venho adorando todos os textos que leio.
ResponderExcluirO assunto trazido por este é uma grande verdade, a separação emocional da família de origem é muito difícil e muitos casais não estão dispostos a lidarem com as responsabilidades deste divórcio emocional da família de origem. Aí fica a pergunta que vc faz no texto: Esses casais querem se casar mesmo?
Abraço
Que pena vc não ter deixado seu nome, mas obrigada por deixar seu comentário!
ResponderExcluirUm abraço, Adriana
Ola sou Marta!aAdorei a materia!principalmente porque vivo isso na pele.Sai com 20 anos da casa de meus pais para viver com meu marido (hoj tenho 31 anos).ainda nao tenho filhos mas moramos nos altos da casa da mae dele.sempre digo que vou sair fazer a minha vida afinal sou independente financeiramente e tudo que tenho em "meu" apartamento foi comprado com muito suor.ele fica irritado pois nao sou de frequentar muito a sua familia de origem e mantenho pouco contat c minha sogra justamente porque sei do nosso compromisso um com o outro.ele nao tem ainda uma estabilidade financeira e nao quer ter filhos.o q posso fazer para tentar resolver esses conflitos e salvar o meu casamento?
ResponderExcluirOlá Marta,
Excluirque bom que você gostou da matéria! É difícil fazer mudanças quando só um cônjuge têm consciência do problema e das repercussões. Talvez no seu caso, você possa ajudar seu marido a perceber o quanto esse aprisionamento na família de origem dificulta o crescimento individual e do casal. Mas você pode tentar por outras vias, ajudá-lo a querer crescer e desenvolver na vida, mostrando sua vontade de crescer e os fazendo seus próprios movimentos de busca por mudança. Assim quem sabe ele queira te acompanhar? Ainda vale lembrar da possibilidade de realizarem uma terapia de casal para que um terapeuta lhes ajude a encontrar novos caminhos.
Boa sorte nas suas buscas.
Att.
Adriana Freitas
Olá Adriana,
ResponderExcluirNão sei se você vai ver meu comentário, por se fazer um tempo que a matéria foi postada.
Meu marido é ótima pessoa, ótimo pai, mas tem algo que me chateia muito. Ele mora comigo em minha casa, mas sempre que falo em construirmos algo para nós juntos ele sempre pensa em construir primeiro para sua família de origem, a qual embora carente, não se esforça para merecer, esperando tudo dos outros. Fico muito chateada, pois já aconteceu de pedir algo ao meu marido que foi negado por falta de dinheiro, e a mesma coisa foi financiada em varias vezes só para agradar a quem não está do seu lado lutando junto. Não adianta conversar, ele acha que eles merecem e eu não preciso.
Tânia
Olá Tânia
Excluirque situação complicada né. Infelizmente parece que seu marido ainda está casado com a família dele. Será que você está casada com a sua também, de uma forma diferente? Ninguém casa com alguém por acaso. Talvez vocês tenham semelhanças mais profundas nesse sentido.
Procure se avaliar e ver se emocionalmente ainda tem algum aprisionamento na sua origem.
Agradeço seu comentário. Um abraço
Adriana