A RAIVA NOS RELACIONAMENTOS
HOSTILIDADE CONJUGAL
Ontem dei uma aula sobre Hostilidade
Conjugal, para um grupo de colegas onde faço supervisão. O texto deste post é um resumo dessa aula.
Nossos relacionamentos nos despertam
múltiplos sentimentos e emoções, bons e ruins, saudáveis e doentios. Por isso, uma
diversidade de conflitos surgirá ao longo das relações, podendo gerar
crescimentos, negociações ou destruições da autoestima dos indivíduos e de seus
vínculos.
A dificuldade de lidar com os
sentimentos no geral e mais especificamente com os sentimentos hostis faz com
que levantemos a muralha de nossas defesas
e bloqueemos os canais de comunicação. No entanto, os pensamentos e sentimentos
encontrarão outras formas de expressão, que podem ser muito disfuncionais e até
destrutivas para os indivíduos e as relações.
Não fomos ensinados a comunicar nossos sentimentos de forma assertiva. Como a raiva é conotada negativamente em nossa cultura e em nossas
famílias, fica mais comprometida a sua expressão consciente. Dessa forma,
processos de negação poderão muitas vezes camuflá-la atrás de outros
sentimentos ou transformá-la em outros comportamentos.
A raiva encontrará outras formas de expressão implícitas e
indiretas como o distanciamento, a indiferença, o boicote aos interesses
individuais, a vitimização, até mesmo a autopunição e autodestruição.
O casamento se torna insatisfatório
e hostil porque é baseado em projeções.
Projetamos nos parceiros os desejos insatisfeitos das nossas primeiras relações
de amor, ou seja, esperamos que as relações de casal venham suprir nossas
carências mais básicas, aquele amor completo que nossos pais não puderam nos
oferecer por causa de suas limitações humanas.
E assim, quando o casamento adquire
uma função de salva-dor, já está fadado ao fracasso, pois está obrigado a
resolver as carências, faltas e vazios infantis. Como nenhum parceiro consegue
o tempo todo salvar a dor do outro, o casamento fica frustrante pois deixou de cumprir sua obrigação, e essa frustração
é o propulsor da raiva.
Somos narcisistas. Só enxergamos a
nós mesmos na relação. Não entramos nas relações pelo outro, mas sim pelo que o
outro pode nos oferecer. O narcisismo
designa o estado em que a libido é dirigida ao próprio ego, um amor excessivo a
si mesmo. Em consequência disso, os três desejos secretos do amor têm a ver com:
1) a busca de fusão com o parceiro por causa do medo da solidão; 2) o desejo de
aprovação do outro e de sua confirmação constante; 3) o desejo de estímulo que
irá preencher o vazio das primeiras relações.
Então, esses desejos envolvem uma
preocupação básica consigo mesmo e com as próprias satisfações, sendo nutridos
pela necessidade de receber em vez de dar amor. Nenhum tem alguma coisa a ver
com dar amor para a outra pessoa. Só damos com a intenção de receber.
É triste nos deparar com nosso
próprio egoísmo.
A vulnerabilidade narcisística está na
essência de todos ou da maioria dos conflitos conjugais e o grau de
vulnerabilidade de cada parceiro é muito semelhante, ainda que as manifestações
superficiais possam ser incrivelmente diferentes.
E o problema se agrava pois além de
esperar que o outro supra nossas necessidades e carências infantis, temos uma
regra infeliz no contrato inconsciente
do casamento que fala o seguinte:
“Eu tentarei ser algumas das coisas
mais importantes que você quer de mim, ainda que algumas delas sejam
impossíveis, contraditórias e loucas, desde que você seja para mim algumas das
coisas impossíveis, contraditórias e loucas que eu quero que você seja. Não
precisamos contar um ao outro o que essas coisas são, mas ficaremos zangados,
aborrecidos ou deprimidos se não formos fiéis a isso” Pincus e Dare (conferir
referência completa).
Ou seja, o contrato inconsciente
reforça uma dificuldade comunicacional dos relacionamentos pois o outro tem que
adivinhar o que eu desejo e preciso e se não o fizer isso será considerado
desamor. Uma comunicação ruim aumenta significativamente a raiva e a
hostilidade conjugal. As brigas ficam destrutivas e não chegam a lugar nenhum.
Os casais precisam aprender a
utilizar sua energia agressiva para
resolverem as suas frustrações relacionais e não para destruir o outro. E
também para melhorarem sua comunicação e sua autoestima.
Numa comunicação construtiva há uma expressão clara de um problema
particular, cada oponente escuta atentamente o outro, estabelece seu próprio
posicionamento nitidamente, descobre o posicionamento do outro e desenvolve trocas
de negociação. Há um movimento real em direção da resolução da dificuldade, o
entendimento acentuado do outro e um compromisso negociado mutuamente.
No filme “Separados pelo Casamento”
o casal entra numa comunicação completamente inadequada, num jogo sem fim, até
que chegam a um “cessar fogo”, onde comunicam o que realmente precisava ser
comunicado, mas infelizmente tarde demais, num momento em que a relação já
havia sido destruída. Vejam a cena:
Além de buscarem a melhoria da
comunicação, os parceiros também precisam aprender a cuidar de suas próprias carências
e necessidades para não ficar esperando que o parceiro o faça. A
responsabilização de cada indivíduo consigo mesmo é fundamental para a saúde
das relações. Reconhecer e confirmar a si mesmos assim como buscar realizar
seus desejos e projetos individuais, são questões importantes que favorecem a
diminuição de expectativas nas relações conjugais e por consequência diminuem
também a hostilidade conjugal.
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Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
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Referências das Figuras
1 – http://minhavidaperfeita.com.br/terapia-de-casal-voce-tem-palavra/
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