PERDA DO AMOR
LUTO DOS RELACIONAMENTOS AMOROSOS
Quem nunca sentiu uma profunda dor pela perda de uma paixão
ou um amor?
Certamente em algum momento você já teve alguém por quem
cultivou um forte sentimento, e a perda desse relacionamento te deixou
arrasado. Especialmente quando é esse alguém quem decide ir embora das nossas
vidas nos deixando com nosso sentimento ainda grande demais. Ou quando
decidimos deixar um relacionamento por não aceitarmos suas condições mesmo
quando ainda gostamos do parceiro. Ou perdemos o amado para a morte, no auge do
nosso amor. Ou perdemos o amado para sua própria mãe/família que não quer deixá-lo
crescer, e nem ele faz o esforço!
Qualquer que seja a forma da perda, podemos viver a dor e
superá-la ou podemos entrar num processo de sofrimento sem fim, ficando presos
em um luto patológico. Para todo luto e necessário um período razoável de tempo
para sua elaboração e também para a recuperação emocional do indivíduo. Eu
mesma já gastei nove meses, num chororô danado, para me recuperar de um
namoro do qual sai apaixonada, por não aceitar certas condições doentes que começaram
a se estabelecer desde o início.
O que mais me impressiona é como as pessoas não respeitam
seus processos de vivência do luto, buscando uma série de anestesias - remédios,
álcool, drogas, comida, trabalho - ou caindo imediatamente em novos
relacionamentos, propensas a repetir os mesmos erros não elaborados do
relacionamento anterior.
Culturalmente vivemos numa época onde a indústria farmacêutica
vende a fantasia de que sentimentos são doenças e devem ser medicalizados.
Tristeza e mágoa viraram depressão, raiva se transformou em bipolaridade ou
histeria, medo em pânico e assim vai uma lista enorme. Fugimos igual "o diabo
foge da cruz", de vivermos nossas tristezas, mágoas, raivas e
ressentimentos, sendo os primeiros a buscar alguma forma de anestesia. Queremos
solução imediata, servindo qualquer coisa pra aplacar ou desviar a atenção da
nossa dor.
Entretanto, precisamos passar pelo processo de luto para
nos recuperarmos, curarmos nossas feridas e sairmos inteiros para os
novos relacionamentos. Quando não nos damos esse tempo, chegaremos ainda
partidos nas outras relações, muitas vezes esperando que o outro cuide de nós.
Assim já começa um padrão relacional cuidador-cuidado, que pode dar muito certo
se ambos gostarem cada um de seu papel ou pode dar muito errado se o
ferido sarar, não quiser mais ser cuidado, o cuidador não aceitar sair do seu
papel, e o ex-ferido ir embora.
Segundo Kübler-Ross, em seu livro* "Sobre a morte e o morrer" as fases do luto são: negação e isolamento, mecanismos de
defesas diante a notícia e do choque da perda; raiva da vida, do abandono ou de Deus; barganha, uma tentativa de negociar com o outro ou com Deus sobre a
perda; depressão - viver profundamente os sentimentos negativos da perda; e aceitação, redefinir a
perda da melhor maneira possível e seguir em frente. Tais fases não acontecem todas,
nem de forma cronológica, nem linear, mas na elaboração saudável do luto os
sentimentos dessas fases vão dinamicamente sendo vivenciados.

Lembro-me do filme "Um beijo roubado", dirigido por
Wong Kar-Wai e estrelado por Norah Jones, em que sua personagem, Elizabeth acaba de ser
traída e deixada pelo parceiro, começa a se confessar com o personagem de Jude
Law, Jeremy em seu charmoso café, se envolve com ele, mas escolhe sair pelo país
em busca de si mesma, encontrando em ressonância, uma série de pessoas também
enlutadas de diversas formas.
Considero a viagem da personagem como uma metáfora da “viagem”
necessária na busca por uma resolução emocional do luto. Apesar de inicialmente
existir esse desejo de fuga da atual realidade dolorosa, o processo emocional
do enlutado progride quando o indivíduo decide encarar a si mesmo, suas
dificuldades, suas implicações e problemas no relacionamento anterior, faz uma revisão
dos padrões adequados e inadequados e decide com quais pretende ficar ou
descartar, se propõe cuidar de si primeiro, das suas feridas, curá-las e voltar
a ficar inteiro para construir novas relações.
Há que se considerar que certos indivíduos vão vivendo
seus lutos dentro das relações, e quando acontece o fim espontâneo, escolhido ou alguma
traição que os motiva a sair da relação inicial, eles já estão com seus lutos
em processos mais avançados, o que lhes permite entrar em novas relações com
maior rapidez e sem prejuízos da perspectiva das elaborações do luto. Mas isso
é exceção. No geral, a maioria das pessoas nega seu luto, foge e passa por cima
do mesmo. Existe até culturalmente aquela fala que “só um novo amor cura o
outro”.

Podemos considerar então, que as três principais tarefas
emocionais na elaboração das perdas relacionais são:
1. Viver e permitir-se viver a tristeza, a dor e todas as
outras emoções decorrentes da perda, respeitando seu tempo e buscando passar pelo período de luto com acolhimento
da dor ao invés de demasiadas fugas ou anestesias;
2. Revisar a relação anterior ponderando as coisas positivas
que gostaria de repetir nos próximos relacionamentos e as negativas que
gostaria de mudar. Em outras palavras, significa conhecer a si mesmo, seu
desejo relacional e amoroso que direcionará suas novas buscas;
3. Cuidar de si mesmo e das próprias necessidades de forma
adulta, para que a busca afetiva não seja apenas um depositário das carências afetivas
originais ou recentes.
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Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica
Referências das Figuras
3 – http://artodyssey1.blogspot.pt/2014/04/teresa-carneiro.html
4 – http://www.redbubble.com/people/theartoflove/works/8989590-making-a-fresh-start?c=27861-art-from-the-heart
4 – http://www.redbubble.com/people/theartoflove/works/8989590-making-a-fresh-start?c=27861-art-from-the-heart
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Excelente e pertinente reflexão para uma situação tão comum nos dias de hoje. Espero e desejo que você continue neste caminho de criação e partilha que tem me ajudado tanto. Gde abraço, sds...
ResponderExcluirOi Waleska, obrigada pelo incentivo! Fico feliz que os textos estejam contribuindo para seu crescimento. Um abraço, Adriana
ExcluirMuito bom texto! Parabéns Adriana!
ResponderExcluirOi Erica, obrigada, fico feliz que tenha gostado do texto.
ExcluirAbraços
Adriana