A FALSA HARMONIA DOS CASAIS COMPLEMENTARES
DOIS LADOS DA MESMA MOEDA
A complementaridade, assim como a simetria - abordada no
post anterior - é outro padrão comunicacional, onde a diferença é a característica
principal das relações estabelecidas. Diferença esta que é marcada por
polaridades, cada parceiro assumindo um pólo na relação. Possui dinâmicas
como: dominador-dominado; opressor-oprimido; autoritário-submisso, pai-filha; mãe-filho;
responsável-irresponsável; dependente-codependente, etc.
A doença desse padrão de comunicação é a complementaridade
rígida, que é determinada pela vivência de papéis relacionais cristalizados no
seu pólo de referência principal. Relembrando, a saúde comunicacional seria
quando o casal transita em ambos padrões, complementares e simétricos,
dinamicamente, de acordo com a necessidade do contexto.
Geralmente o padrão complementar é corroborado pela
cultura de gênero, religiosa e familiar, na medida em que estas estabelecem
papéis rígidos e bem delimitados para homens e mulheres. E assim podemos nos
identificar e nos manter leais a este tipo de funcionamento consciente e
inconscientemente.
Nas relações complementares cada parceiro assume seu papel
porque sua própria crença, construída em sua história de origem, lhe permite.
Digo isto porque muitas vezes parecerá que o oprimido, o dominado, o codependente
são vítimas, mas eles são corresponsáveis por ficarem nessa posição na relação.
Podem possuir um comprometimento na autoestima, não acreditarem em si mesmos,
ou serem leais aos papéis transmitidos pela família, religião e cultura, mas
"ninguém entra num papel por acaso".
Como essas pessoas entram nessas relações a partir de suas
próprias crenças, elas geralmente são cordatas com seus papéis, gerando uma
harmonia no casal. No entanto estou considerando esse equilíbrio como falso
porque existe sempre sacrifícios de uma ou ambas as partes, rigidez e
falta de flexibilidade no funcionamento do casal e da família, o que dificulta
uma vivência mais espontânea e livre nos relacionamentos.

Isso não significa que não exista peso para o que ficou
"vivo". Ser o algoz, o autoritário da relação é uma forma de mascarar
a própria insegurança ou medo, e uma necessidade de autoafirmação visando
tamponar o sentimento que está por detrás. Se ele precisa de alguém fraco
para se mostrar forte, é porque não sente internamente seguro e confiante em si
mesmo. Se relacionasse com alguém de fato forte, seria denunciado e sua máscara
cairia instantaneamente. Por isso precisa e depende desse outro parceiro
fragilizado no outro lado da moeda.
Dessa forma essa relação polarizada é extremamente dependente
apesar de um dos lados parecer tão independente. Ainda que os
posicionamentos de cada indivíduo sejam polarizados o eixo estrutural dos
parceiros é de fato semelhante: insegurança, medo, baixa autoestima. Dois lados
de uma mesma moeda.
Nesse padrão de comunicação, muito há que
ser trabalhado em função do autovalor de cada indivíduo. As vezes acontece do
parceiro morto acordar, ou ressuscitar e entrar em disputa de poder com o
outro, como no filme "Guerra dos Roses", também referendado no
post anterior, o que não resolve a doença dependente do casal, só mudando
a lógica comunicacional de complementar para simétrica.
Para que haja possibilidade de mudança na
complementaridade rígida, o morto precisa querer viver e o dominador precisa
estar cansado do seu falso poder. O morto precisa estar disposto a fazer os
enfrentamentos dos seus medos e abrir mão da falsa segurança que o dominador
lhe dá. O dominador precisa entrar em contato com sua própria fragilidade, a
qual tenta esconder a qualquer custo e correr o risco de retirar suas próprias
máscaras defensivas agressivas. Ambos parceiros precisam enfrentar suas defesas
infantis e aprender a lidar de outra forma com suas carências originais. Começa
com uma escolha individual.
Construir um padrão saudável de comunicação dá muito
trabalho. Nada acontecerá magicamente, apesar de fantasias infantis dos
parceiros. Você está disposto a fazer este investimento?
Psicoterapeuta
Sistêmica em BH
Figuras
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Gostei muito do texto! Pego-me refletindo sobre a relação entre o "Movimento como reflexo da "vida"" e a "Estagnação como reflexo da "morte"".
ResponderExcluirOlá Rafael, muito obrigada por deixar seu comentário!
ExcluirMuito pertinente sua reflexão. Posso acrescentar apenas que certos movimentos, aqueles por ansiedade demasiada, podem não ser para a vida, e certas "estagnações" ou momentos sem movimento não significam morte, podendo refletir apenas momentos de paz ou tranquilidade após movimentos de mudança. Vida e morte dependem também de permissões ou não permissões internas, corroboradas pela história de todo um sistema familiar transgeracional.
Um abraço, Adriana Freitas