SOLTEIRA,
BALZAQUIANA, EM PAZ E FELIZ
CRISES E
REDEFINIÇÕES VITAIS
Tenho visto muitas mulheres balzaquianas
solteiras entrando ou passando pela década dos 30-40 anos em completo desespero
porque não têm namorado nem marido nem filhos. O relógio biológico começa a
gritar que a fertilidade entrou em decadência e está próxima da mortalidade, e
as mulheres agem como se estivessem mediante uma iminência enlouquecida de uma
morte fantasiosa.
Culturalmente, o papel materno para
as mulheres é investido de muito valor, onde aprendemos e internalizamos desde
pequenas em nossas famílias, cuidando das bonecas, todo o mito do amor materno.
Consciente e inconscientemente somos educadas para cuidar dos outros e ainda
não abrimos mão desse papel familiar. Portanto, colamos na nossa identidade
feminina, a obrigatoriedade de ser esposa e mãe, sem muita ou nenhuma crítica.
Eu não fiquei imune a essa
influência cultural reiterada pela minha família, especialmente até os trinta e
poucos anos, quando uma crise me desmoronou.
Por volta dos 31 anos eu tive uma
crise de sentido. Havia me apaixonado por um homem e não fui correspondida. Até
então, o sentido da minha vida, meu sonho dourado, era casar e construir minha
própria família, ter marido e filhos. Não sei por que essa situação específica
mexeu tanto comigo, já que me apaixonei outras vezes, mas de repente me veio a
tona todo um quesito de realidade: “e se o meu sonho não acontecer? E se eu
nunca casar e nunca tiver filhos?”. Caí num vazio, num buraco sem fundo, numa
dor existencial imensa. O meu sentido de vida caiu por terra e fiquei sem
sentido nenhum, me questionando: “E agora? Por que e pelo que vale a pena
viver?”.

Partindo desse novo foco, me tornei
totalmente responsável pelas minhas necessidades, descobrindo o que é vida pra mim. Não sei se posso dizer
que tenho a “sorte” de gostar de fazer muitas coisas, mas com certeza encontro
prazer em várias atividades simples e sofisticadas da vida. Adoro música e
sempre ouço em casa, vou a concertos e shows, amo cinema e teatro e sempre acho
espaço na minha agenda para frequentá-los, além de prazeres como cultura, arte, gastronomia,
receber amigos, sair com amigos, ir a feiras de diversos tipos, fazer compras
de supermercado, passear em praças e em lugares de natureza, viajar e conhecer
lugares novos, tomar um banho de chuva de vez em quando, ler, escrever, etc.
Descobri que existe vida em qualquer lugar que haja prazer e procuro frequentemente
cultivar meus prazeres, no dia a dia.
E agradeço porque construí uma vida
digna de ser vivida e encontrei a felicidade no fortalecimento da busca de
coerência. Vejam bem, não encontrei felicidade em nenhum parceiro, em nenhuma
amizade em específico, em nenhum bem adquirido. Se depositarmos nossa
expectativa de felicidade em algo externo, ela tão logo irá embora quando o for
o “objeto” amado. Também não encontrei a felicidade ao final do caminho ou com
alguma conquista alcançada. Ela simplesmente aconteceu durante o caminho.
Passei a gostar mais de mim quando consegui agir de acordo com meus valores, sentimentos,
desejos, pensamentos, e isso se chama integridade do self. O que não significa
que não haja dor, tristeza, e angústia de vez em quando. Aprendi a me acolher
nesses momentos e integrá-los como parte fundamental do meu crescimento.
Quando aceitamos pessoas,
relacionamentos e situações em nossas vidas que não desejamos ou estão em
desacordo com nossos desejos e valores, só para não ficarmos sozinhos porque a
carência está transbordando nosso psiquismo e nos afogando em amargura,
torna-se impossível gostar de si mesmo. A felicidade não estará onde haja
incoerência e a autoestima cairá num precipício pior do que o abismo onde já se
encontrava.
Uma característica minha que sempre
me ajudou e ainda ajuda bastante é a coragem. Coragem de mudar o rumo e o
caminho da vida, ao descobrir que estou numa direção “errada” que não me
promove crescimento. Algumas mudanças de rotas são radicais, mudanças de
rodovias, e outras não, sendo apenas mudanças de trilhas. Mas é preciso ter
coragem e ousadia para encarar tal empreitada. Lembro-me como se fosse hoje
quando pedi demissão da faculdade que trabalhei de 2006 a 2009, porque descobri
que o trabalho de orientação de monografia estava me deixando doente de
ansiedade. Antes, eu achava que tinha
que gostar desse trabalho pois tinha um bom status e um salário razoável. Foi
libertador quando me dei conta que não “tinha
que” nada. Ao sair, fiquei apenas com o trabalho autônomo como terapeuta,
mas recuperar minha saúde mental não teve preço. Em pouco tempo a qualidade do
meu trabalho melhorou, pois minha energia se renovou, e continuei crescendo
profissionalmente.

Ser solteira e balzaquiana pode ser maravilhoso ou odioso. E só será maravilhoso se repensarmos as imposições culturais e familiares sobre nossos papéis sociais e transformarmos aqueles que nos limitam. Eu já redefini os meus, e você?
Para quem ainda não assistiu, o filminho abaixo finaliza este post perfeitamente!
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
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Incrível, Adriana, parabéns!
ResponderExcluirObrigada Lia! Fico feliz que tenha gostado! Obrigada por deixar seu comentário! Abraços! Adriana
ExcluirMuito bom o texto, como todos os outros que estão no seu blog.
ResponderExcluirObrigada por deixar seu comentário Andréa! E agradeço também por acompanhar o blog! Seu retorno é muito importante! Abraços, Adriana
ExcluirAdorei seu texto, Adriana. Achei muito sensível e autêntico. Você está de parabéns. Um beijo. Rosângela
ResponderExcluirObrigada Rosângela, seu comentário aqueceu meu coração! Um forte abraço, Adriana
ExcluirParabens pela escrita extraordinaria e pela refinada escolha do video. Simplesmente adorei!!!!
ResponderExcluirObrigada Jane! Fico feliz que tenha gostado do texto e o vídeo é realmente uma preciosidade. Um abraço, Adriana
ExcluirAdriana, tudo bem? Estou retribuindo a gentil visita (papodehomem.com.br) e dizer que estou encantada com seu blog. Amei.
ResponderExcluirEsse me tocou particularmente, estou com 31 anos, casada, sem filhos e estou num momento de minha vida muito prazeroso, e tudo o que me dá prazer também é muito simples, meus exercícios, meu trabalho com horas e investimentos bem determinados, minhas comidinhas, minhas caminhadas com músicas.
Mesmo sabendo do impacto dos anos em minha fertilidade, eu nesse momento não quero filhos, e estou bem com essa decisão. Sinto liberdade. Sozinha.
Já ouviu a música "Carne e osso" da Zélia Duncan? Diz muito sobre seu texto, sobre essa fase gostosa.
Com certeza estarei por aqui mais vezes.
Um abraço!
Ai!!! Não tinha assistido ao filminho! Simplesmente ameiii!!
ResponderExcluirOlá Débora! Fiquei muito feliz com sua visita aqui no blog! Obrigada por deixar seu comentário super positivo! É muito bacana quando olhamos para nossas vidas balzaquianas e chegamos a conclusão que estarmos de bem e em paz com nossas escolhas. E mesmo se não estivéssemos, poderíamos mudar o rumo para construir uma vida mais digna, não é mesmo?
ExcluirAdorei a música indicada, deixo aqui o link para quem se interessar: https://www.youtube.com/watch?v=MXki8pIOMH8.
Um abraço, Adriana