SEXUALIDADE MASCULINA
INTERDIÇÕES DA CULTURA
Quando falamos de movimento feminista,
destacamos as mudanças alcançadas pela busca das mulheres em relação
ao papel cultural feminino, mas muitas vezes faremos uma leitura reduzida se não
avaliarmos também a força cultural sobre os homens e suas definições de papéis.
A cultura e tão determinante para os homens
quanto o é para as mulheres. Se hoje temos um masculino da forma como se
apresenta, com certeza a força cultural, juntamente com a familiar reiterando a
primeira, têm grande parcela no reforçamento dos papéis e comportamentos ditos
masculinos. Podemos dizer que nós, mulheres e homens, repetimos inconscientemente
os ditames culturais, até que tenhamos consciência crítica sobre os mesmos.
Segundo João Silvério Trevisan em seu livro "Seis balas num buraco só - a crise do masculino", a
masculinidade está em crise, uma vez que os aspectos que a garantiam no passado
estão falidos ou em processo de falência. As transformações históricas que
inviabilizaram a manutenção do mito masculino incluem as conquistas do movimento
feminista com a consequente decadência do patriarcado.
Sem conhecer ainda um modelo adequado, muitos
homens recorrem a violência social e intrafamiliar, numa tentativa de
autoafirmação contra sua insegurança de base. Por outro lado, podem tentar encontrar
formas de compensação para suas frágeis estruturas internas
numa busca estruturação a partir de elementos exteriores. Nesse contexto,
três saídas divergentes se destacam: o trabalho obsessivo - workaholic -
para ter reconhecimento externo através do trabalho e do dinheiro; as academias
de ginástica, com foco na construção corporal externa - body
building - para compensar uma falha interna; e a sedução don-juanesca, com
uma fixação na sexualidade sem admitir compromissos afetivos.
Culturalmente, a feminilidade acontece
naturalmente, apenas com o amadurecimento corporal para a procriação. Já a
masculinidade será construída num espaço social e político, onde é demandado ao
homem que prove sua masculinidade.
Dessa forma, um dos aspectos mais cobrados ao
homem heterossexual para comprovar sua masculinidade tem a ver com sua
sexualidade. Ele tem que ser o "pegador" e o "comedor". É cobrado
dele que deseje qualquer mulher que se lhe ofereça. E quando ele não quer,
ou tem que fazer de conta ou sua masculinidade será colocada em questão. Tal
pensamento machista advém tanto dos homens quanto das mulheres. Já vi mulheres
chamarem homens de gays quando são rejeitadas.
Trevisan também fala de uma construção da
masculinidade em oposição ao feminino e consequentemente um medo da homossexualidade,
sendo necessário ter pensamentos, sentimentos e comportamentos diferentes das
mulheres para provar que é macho. Dessa forma, ser homem é restringir-se,
conter e cortar seus "impulsos" femininos, o que limita profundamente
as vivências afetivas e o sentir do homem.
Para o homem homossexual assumido que já se
aceitou internamente, como já passaram por esse questionamento da masculinidade
e já integraram o aspecto feminino de sua personalidade, muitas vezes não ficam
presos a necessidade de provar que são homens. Mas quando ainda não se
aceitaram, podem ficar compulsivos sexualmente, compulsivos no trabalho, e
colocar uma máscara e uma armadura para se esconderem ainda na tentativa de se
afirmarem como homens na perspectiva machista cultural.
Ter que provar sua masculinidade via sexo é um
grande aprisionamento para o homem e prejudica sua liberdade de expressão, sua
busca de prazer e seus relacionamentos amorosos.
Para este homem aprisionado, o pênis se torna
um foco importante, e o seu tamanho se torna uma problemática considerável.
É comum homens com tamanho peniano menos avantajado criarem estratégias compensatórias
para sua masculinidade comprometida, utilizando das chamadas extensões fálicas
como por exemplo armas e violência, dinheiro, carros ou motos -
grandes ou caríssimos - e corpos malhadíssimos, esportes radicais, fanatismo
por futebol, etc. Extensões estas que não resolvem sua insegurança nem garantem
sua masculinidade, servindo apenas de máscaras provisórias e ilusórias.

É necessário que o homem abandone a dicotomia aprisionante de ser homem versus ser mulher, integrando o feminino como parte saudável de si mesmo. Enquanto o homem não se questionar a respeito
de seu conceito de ser homem, de sua escravidão cultural, seus modelos
masculinos familiares (em outro texto abordarei as questões paternas e maternas na construção da masculinidade), e decidir mudá-los, estará fadado a viver um masculino
limitado, aprisionado em frágeis estruturas externas.
Psicoterapeuta
Sistêmica em BH
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