MULHERES QUE AMAM DEMAIS
DESESPERO E SOFRIMENTO POR AMOR
Cansei
De tentar encontrar respostas,
De tentar entender o porquê das suas
atitudes...
De aceitar a culpa por aquilo que eu
não provoquei (...)
Lendo
o livro “Mulheres que amam demais” de Robin Norwood, identifiquei uma série de
questões que se encaixam perfeitamente nas mulheres da minha família, inclusive
eu, especialmente no meu período de inconsciência, antes de encarar um processo
terapêutico de forma mais consistente. Minha avó paterna foi uma mulher que ama
demais, correndo atrás de um marido alcoolista, viciado em jogos e motorista
que ficava grande parte da vida distante da família. E ela fez coisas
impensáveis tentando trazê-lo de volta para dentro de casa, o que afetou
definitivamente a forma de suas filhas encararem as relações amorosas. As
mulheres da geração seguinte acabaram repetindo de forma bastante semelhante a
história de minha avó, casando com maridos alcoolistas e castradores de seus
potenciais ou desistindo dos relacionamentos por não acreditar na existência de
homens bons. A terceira geração de mulheres ainda sofre consequências desses
padrões, repetindo a atração por homens indisponíveis, não confiáveis, e a
dificuldade de construção de intimidade. E eu estou nesta história, lutando
para romper com esses padrões emocionais limitantes e completamente
insatisfatórios.
Uma
mulher que ama demais (Mada) é viciada em “amar” e seu conceito de amor está associado com sofrimento, com cuidar do
outro, com transformar o outro em alguém melhor, com ter que lutar para
conquistar o amor, com ter que se esforçar e fazer tudo pelo relacionamento,
com culpar-se pelos fracassos da relação, com uma emocionalidade exagerada e
uma adrenalina recorrentes. Essas mulheres vivem num caos emocional constante
provocado por esses relacionamentos conturbados e imprevisíveis. Este caos é um
engodo para esconder todo o medo de não ser amada, de não ter valor nem merecer
amor, de ser ignorada, de ficar sozinha, ser abandonada ou destruída. Reflexos
de uma realidade histórica muito dolorosa.

Assim,
munidas dessas duas reações - negação da realidade e papel de cuidadora – tais
mulheres projetam nos relacionamentos amorosos, os mesmos papéis que aprenderam
a operar em suas famílias de origem. Para continuar funcionando desta forma,
precisam atrair e atraem homens que precisam ser cuidados, ou seja, homens que
tenham algum ou vários tipos de problemas, que deem a ideia de precisarem da
ajuda delas. Dessa forma, há a reconstituição do ambiente familiar original,
onde as mulheres tentarão novamente controlar
tudo para conseguirem consertar no
parceiro o problema que não conseguiram resolver no passado. Novamente vem o
fracasso e novamente elas se culpam tentando controlar e “melhorar” a si mesmas
para mudar o outro. Está estabelecido o ciclo vicioso doentio dessas relações.
Robin
Norwood resume assim as características das Madas:
1.
Você vem de um lar desajustado em
que suas necessidades emocionais não foram satisfeitas.
2.
Como não recebeu um mínimo de
atenção, você tenta suprir essa necessidade insatisfeita através de outra
pessoa, tornando-se superatenciosa, principalmente com homens aparentemente carentes.
3.
Como não pôde transformar seus pais
nas pessoas atenciosas, amáveis e afetuosas de que precisava, você reage fortemente ao tipo de homem familiar mas inacessível, o qual tenta, mais uma
vez transformar através de seu amor.
4.
Com medo de ser abandonada, você faz
qualquer coisa para impedir o fim do relacionamento.
5.
Quase nada é problema, toma muito
tempo ou mesmo custa demais, se for para “ajudar” o homem com quem está
envolvida.
6.
Habituada a falta de amor em
relacionamentos pessoais, você está disposta a ter paciência, esperança,
tentando agradar cada vez mais.
7.
Você está disposta a arcar com mais
de 50 por cento da responsabilidade, da culpa e das falhas em qualquer
relacionamento.
8.
As autoestima está criticamente
baixa, e no fundo você não acredita que mereça ser feliz. Ao contrário,
acredita que deve conquistar o direito de desfrutar da vida.
9.
Como experimentou pouca segurança na
infância, você tem uma necessidade desesperadora de controlar seus homens e
seus relacionamentos. Você mascara seus esforços para controlar pessoas e
situações, mostrando-se “prestativa”.
10. Você
está muito mais em contato com o sonho de como o relacionamento poderia ser que
com a realidade da situação.
11. Você
é uma pessoa dependente de homens e de sofrimento espiritual.
12. Você
tende psicologicamente e com frequência bioquimicamente a se tornar dependente
de drogas, álcool e/ou certos tipos de alimento, principalmente doces.
13. Ao
ser atraída por pessoas com problemas que precisam de solução, ou ao se
envolver em situações caóticas, incertas e dolorosas emocionalmente, você evita
concentrar a responsabilidade em si própria.
14. Você
tende a ter momentos de depressão e tenta preveni-los através da agitação
criada por um relacionamento instável.
15. Você não tem atração por homens gentis,
estáveis, seguros e que estão interessados em você. Acha que esses homens
“agradáveis” são enfadonhos. (Mulheres que amam demais, p. 23-24).
Diante
dessas características, podemos observar que essas são mulheres que estão desesperadas em busca de amor, na tentativa de suprir suas carências originais
mais profundas. No entanto elas entram em relações exatamente opostas ao que
procuram, ficando presas em uma dupla mensagem: “estou sedenta por amor, mas
não tenho permissão para viver esse amor que desejo pois o conceito de amor que
conheço e vivi é completamente diferente do que almejo, dessa forma atraio
homens indisponíveis mas farei todo esforço para transformá-lo no homem que me
amará como preciso”. Enquanto isso elas repetem a falta do amor em suas vidas e
vivem apenas a promessa do amor ou o sofrimento pela repetição de suas
histórias.
Buscar
suprir suas carências na relação amorosa é um grande erro que as pessoas no
geral cometem. Colocar a responsabilidade pela própria felicidade nas mãos do
parceiro é deixar de assumir o cuidado consigo próprio, correndo um grande
risco de o outro não corresponder a sua expectativa. Mas quem nunca fez isso?
Um dos grandes aprendizados da vida é tomar a vida nas próprias mãos.

Como
qualquer outro tratamento para
viciados – álcool, drogas, comida, etc. – há um longo processo de recuperação
pela frente, que segundo Norwood inclui admitir o vício e a falta de controle
sobre a doença e procurar ajuda especialmente num grupo de semelhantes, parar
de culpar os outros pelos próprios problemas e a si mesma por não agir
adequadamente, fazer da própria recuperação sua prioridade principal na vida, dirigir
a si mesma e cuidar responsavelmente das próprias atitudes e necessidades, começar
a lidar com os sentimentos atuais e originais e enfrentar os próprios problemas
e defeitos de forma corajosa, construir um novo círculo de amigos com
interesses saudáveis, desenvolver uma espiritualidade de prática diária,
desistir e parar de controlar o parceiro, aprender a não se envolver em jogos
emocionais, aprender a pensar em si mesma em primeiro lugar – tornar-se
“egoísta” – e por último, quando já estiver mais saudável, partilhar sua
experiência, seu aprendizado e seu processo de melhora com outras mulheres
semelhantes.
Mudar os padrões emocionais disfuncionais dos relacionamentos familiares é uma tarefa que requer um esforço consciente,
contínuo e determinado, onde a base de sustentação está no aprendizado do limite consigo mesmo.
Requer que não aceitemos viver uma vida medíocre e só aceitemos um
relacionamento quando ele for o que realmente desejamos. Mas pra isso,
precisamos aprender a cuidar das nossas carências para não ficarmos dependentes
dos parceiros e dos relacionamentos.
Finalizo o post com o clip da música "Try" da cantora Pink, que acho que simboliza artisticamente todo o drama de uma mulher que ama demais:
(tradução do refrão da música, retirada do site letras.mus.br: "onde
há desejo, haverá uma chama, onde há uma chama, alguém está sujeito a se
queimar, mas só porque queima não significa que você vai morrer, você tem que
se levantar e tentar e tentar e tentar" )
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
Figuras
#adrianafreitas #solteirosecasais #amor #afetividade #carinho #relacionamentos #relação #comportamento #terapiadecasal #sexualidade #casal #casamento #solteiros #saúde #comunicação #paixão #carência #parceiro #cuidar #saudades #psicologia #psicóloga #terapiafamiliar #sistêmica #visãosistêmica #terapia #mada #amardemais #dependência
Mt interessante! : ILMA.
ResponderExcluirObrigada pela sua passadinha por aqui Ilma! Um abraço, Adriana
Excluir