COMUNICAÇÃO NOS RELACIONAMENTOS
CURSO ORATÓRIA E ESCUTATÓRIA PARA CASAIS OU ARTE DE FALAR E ARTE DE OUVIR
A palavra é metade de quem a pronuncia
e metade de quem a ouve.
A comunicação é um dos problemas mais básicos e comuns de
todas as relações.
Sempre entramos nas relações esperando que o outro nos faça
feliz, mas não informamos quais nossos parâmetros de felicidade.
O contrato inconsciente dos casais reza que cada parceiro será
responsável por realizar as fantasias mais loucas um do outro, mas esse
outro tem que adivinhar, e caso não adivinhe, isso será considerado desamor.
Pincus e Dare descrevem o contrato inconsciente da seguinte maneira:
“Eu tentarei ser algumas das coisas mais importantes que
você quer de mim, ainda que algumas delas sejam impossíveis, contraditórias e
loucas, desde que você seja para mim algumas das coisas impossíveis,
contraditórias e loucas que eu quero que você seja. Não precisamos contar um ao
outro o que essas coisas são, mas ficaremos zangados, aborrecidos ou deprimidos
se não formos fiéis a isso”.
Qual a possibilidade desse contrato dar certo? Talvez
somente durante a paixão, mas de forma fantasiosa e não realista, pois durante essa fase, o encantamento deixa os amantes muito servidores e cegos. Com o
tempo, a falência desse contrato vem a tona de forma avassaladora, demandando
que o casal rompa o relacionamento ou faça outro contrato com bases mais conscientes,
consistentes e realistas.
Não saber falar e não saber ouvir são problemas frequentes
do antigo contrato inconsciente do casal. Na construção do novo contrato, os
parceiros precisarão investir no processo de comunicação de suas necessidades,
entre outras tarefas que não irei abordar neste post.
Na crônica “Escutatória” de Rubem Alves, ele diz: “Sempre
vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em
oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular”.
Inspirada pelo querido autor, e acreditando que os cursos de oratória
oferecidos são insatisfatórios no quesito relacionamentos, decidi escrever três princípios básicos sobre ambos cursos, mesmo que
ninguém queira se “matricular”.
Curso de Oratória para Casais
1. Aprender a falar numa posição do
eu
Cada parceiro do casal costuma falar acusando o outro do
que ele fez ou deixou de fazer. A acusação ou culpabilização do outro
incita imediatamente o levantamento da muralha da defesa, dificultando ou
impedindo que a boa comunicação aconteça.
Para falar de uma posição do eu, cada indivíduo precisa,
antes de tudo, aprender a identificar seus sentimentos, o que é uma tarefa bem difícil,
pois não fomos educados para tal. Muito pelo contrário, fomos ensinados a
engolir e esconder nossos sentimentos, principalmente os considerados feios. O
problema é que quando os sentimentos chegam no auge da repressão, eles
encontram formas inadequadas de expressão, ferindo o próprio indivíduo e o
outro.
Assim, para ajudar a identificar seus sentimentos, segue
uma lista deles:
Com raiva, triste, sozinho, com saudade, com medo, alegre,
magoado, rancoroso, ressentido, amargurado, inseguro, com ódio, cansado,
abandonado, rejeitado, apavorado, corajoso, confuso, orgulhoso, amado ou não
amado, enganado, miserável, furioso, nervoso, ignorado, excitado, aborrecido,
especial, feliz, importante, vazio, enojado, enciumado, envergonhado,
embaraçado, frustrado, vingativo, desapontado, culpado, preocupado, etc.
Identificado seu sentimento, você tem mais condição de
falar para o outro sobre ele, mas assumindo-o como seu, a partir do
que o outro fez. Deve-se ter cuidado em como se fala para não culpar o outro pelo seu sentimento, pois assim ele continuará
com sua defesa.
Não é possível falar com amor quando se está com raiva. Se
for necessário, aguarde a raiva passar para ter uma conversa com seu parceiro. A
raiva pode ser um bom motor para que o indivíduo se movimente e não fique
paralisado em situações abusivas, mas pode incitar cobranças e vinganças
inadequadas em determinados momentos.
Falar com amor significa ter uma intenção de ser
compreendido pelo parceiro para que ambos cresçam com a conversa e não uma
intenção de vingança, punição e destruição do outro.
Portanto é necessário ter um cuidado com as palavras, com a emoção dessa conversa e com a escolha do momento adequado para que o
diálogo aconteça. Escolher conversar num momento inoportuno para o outro – ex.: horário
do futebol ou novela – pode representar um prévio boicote a conversação.
3. Expressar suas necessidades e
desejos com clareza
Como somos impregnados pelo contrato inconsciente do
relacionamento, criamos a expectativa de que o parceiro adivinhe nossos desejos
de antemão, e por isso não nos dedicamos a explicar claramente o que queremos.
No geral, as mulheres têm o péssimo hábito de falar de
forma indireta, linguagem esta que não é traduzida adequadamente pelo cérebro
masculino, que funciona de forma mais linear. O cérebro feminino funciona mais
de forma circular e recursiva, dificultando assim a compreensão mútua. Ambos
parceiros precisam fazer um esforço cognitivo para transpor estes vícios de
linguagem.
O que piora a situação é que muitas vezes o próprio
indivíduo não sabe claramente o que deseja, e fica esperando que o outro cuide
dele, inclusive adivinhando suas necessidades. Essa expectativa infantil
prejudica a comunicação no relacionamento, tirando a responsabilidade de si e
projetando-a no parceiro.
Curso de Escutatória para
Casais
1. Ouvindo sem levantar muralhas
A arte da escuta se torna sempre mais difícil quando
o que ouço são reclamações, cobranças e culpabilizações. A tendência defensiva
de todo ser humano é criar uma muralha protetora ou armar-se e defender-se
atacando.
Supondo que seu parceiro ainda não tenha passado pelo
curso de oratória, e ainda fale com culpabilizações, escutá-lo será um desafio
de tradução. Será necessário, primeiramente, não se identificar com a culpa recebida. Quando seu parceiro acusa,
na verdade ele esta falando das necessidades não atendidas dele, das carências
dele. Enxergar as necessidades do outro,
não pegando culpas para si mesmo é a grande chance de não se levantar sua
muralha defensiva.
Num relacionamento que busca saúde, você pode tentar
ajudar seu parceiro a traduzir suas acusações em necessidades essenciais dele,
e aí sim decidir se pode ajudá-lo ou não.
Se você também está conectado com seu crescimento, pode
avaliar se o que o parceiro está dizendo a seu respeito é algo que de fato você
precisa melhorar e se for, pergunte a si mesmo como pode mudar o que precisa
ser transformado.
Um problema de relacionamentos já desgastados é quando a
escuta já está impregnada por juízos de valor. Se você já previamente julga seu
parceiro, antes mesmo dele lhe comunicar o que deseja, a muralha já foi
levantada.
Outra forma de agigantar a muralha é quando existe uma
desqualificação prévia da comunicação do parceiro. Isso acontece com ouvintes
arrogantes, que se acham melhores que o outro, só enxergam o próprio umbigo e
não valorizam nem validam o companheiro. No fundo são pessoas inseguras que se
escondem atrás de uma falsa postura de poder, pois precisam diminuir o outro
para se sentirem grandes.
Dessa forma, os julgadores e os arrogantes precisam
reconhecer suas defesas, enfrentá-las e minimizá-las caso queiram melhorar sua
escuta e seus relacionamentos.
2. Aprendendo a traduzir o que se
ouve
A arte da escuta implica aprender a ler nas entrelinhas da
fala. E ler nas entrelinhas significa também buscar compreender os sentimentos
do outro, sendo por isso muito importante saber compreender os próprios
sentimentos.

No processo de comunicação, uma boa escuta não significa
uma escuta passiva, mas uma escuta interativa, onde o ouvinte está por inteiro
naquele contexto conversacional e se mostra interessado não apenas em ouvir,
mas em compreender o que o falante quer dizer. Portanto, em alguns momentos
precisará ter a humildade de pedir esclarecimentos ou perguntar para o outro se
está entendendo adequadamente.
3. Acolher sem querer dar resoluções
Para escutar bem, precisamos acolher o nosso parceiro. E
para acolher bem, é necessário inicialmente criar um bom ambiente para a
conversa. Um ambiente com muitos estímulos externos gera uma distração na
comunicação, que se torna sem qualidade.
Além do ambiente, para estabelecer um diálogo com
qualidade de presença, é necessário que haja uma disponibilidade corporal de
ambos parceiros, com proximidade corporal, posicionamento frente a frente e
contato visual. Se não me engano, foi no livro da Sobonfu Somé, “O espírito da
intimidade”, que li que em sua cultura africana, os parceiros conversam as
coisas mais difíceis de costas um para o outro e as coisas mais fáceis de
frente. De qualquer maneira, o casal precisa encontrar as melhores maneiras de
se comunicar de forma respeitosa e amorosa.
E uma característica do aspecto masculino, no homem ou na
mulher, é a tentativa de ajudar o outro mostrando o que deve ou não fazer
mediante seu problema, ou seja, dar uma solução. No entanto precisamos
perguntar para o ouvinte se ele quer apenas ser ouvido ou se ele quer nossa
opinião sobre seu assunto, respeitando em seguida, a escolha e desejo do outro.
Bem, acredito que este assunto não se esgota nesses
princípios básicos, mas espero que eles possam contribuir para suas reflexões a
respeito do falar e do ouvir e possam melhorar sua qualidade comunicacional em
seu relacionamento.
"A natureza nos
deu uma língua e dois ouvidos, para que ouçamos duas vezes mais do que
falamos."
DiogenesLaertius, Historiador grego, 200-250
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
Referências das Imagens:
6. http://www.veg11.com.br/site/cuide-do-seu-falar
#adrianafreitas #solteirosecasais #amor #afetividade #carinho
#relacionamentos #relação #comportamento #terapiadecasal #sexualidade #casal
#casamento #solteiros #saúde #comunicação #paixão #carência #parceiro #cuidar
#saudades #psicologia #psicóloga #terapiafamiliar #sistêmica #visãosistêmica
#terapia #oratória #escutatória #artedeouvir #falar
Excelente!
ResponderExcluirAcredito que o conflito principal que estou vivendo está relacionado à comunicação.
Vou estudar esse texto mais a fundo.