CARNAVAL
NO LIMITE ENTRE DIVERSÃO E COMPULSÃO
Nos últimos anos,
sempre disse que não gosto ou não ligo para o carnaval, que não vivi o carnaval
na minha adolescência, momento em que “deveria” ter vivido, e por isso não
peguei gosto pela festa. Além do mais, acabei criando uma crença de que o
carnaval teria uma energia ruim uma vez que é uma festa onde vários excessos
são permitidos e vividos coletivamente. Mas este ano me peguei querendo ir em
alguns blocos de carnaval aqui em BH, e comecei a pensar por que dois
sentimentos tão diferentes, rejeição e desejo, estavam habitando meu ser.
No ano passado fui
em apenas um bloco, e até que foi bastante divertido. As músicas eram boas, o
pessoal e o batuque bastante animados e a companhia agradável. Fiquei pouco
tempo atrás do bloco, mas tempo suficiente para sentir que aproveitei.
Acho que pude redefinir o carnaval como sendo aquilo que eu queria viver.
Fiquei na festa o tempo que quis e não participei dos excessos que a festa oferece,
por escolha.
Pesquisando sobre o
tema, encontrei um trabalho fantástico de Roberto DaMatta, “O Carnaval, ou o mundo como teatro e prazer”, capítulo do seu
livro “O que faz o brasil, Brasil?”, onde o
autor faz uma reflexão social e antropológica do carnaval brasileiro. Segundo
DaMatta, para nós brasileiros a vida diária e o trabalho são vistos como castigo,
fardo e peso e por isso precisamos e utilizamos os momentos de festas para
viver a alegria e quebrar essa dureza do viver. Ele define a festa:
“Sabemos que o carnaval é definido como
“liberdade” e como possibilidade de viver uma ausência fantasiosa e utópica de
miséria, trabalho, obrigações, pecado e deveres. Numa palavra, trata-se de um
momento onde se pode deixar de viver a vida como fardo e castigo. É, no fundo,
a oportunidade de fazer tudo ao contrário: viver e ter uma experiência do mundo
como excesso — mas agora como excesso de prazer, de riqueza (ou de “luxo”, como
se fala no Rio de Janeiro), de alegria e de riso; de prazer sensual que fica — finalmente
— ao alcance de todos”.
Nesta perspectiva, o brasileiro sairia de uma hierarquia
cultural, social e econômica engessada e passaria para um patamar de igualdade,
pois no carnaval fantasia se mistura com realidade, e dá certa coragem para os
indivíduos viverem, ou atuarem (como personagens do teatro), o que talvez não
conseguiriam sem estar por detrás de suas máscaras carnavalescas.
Dois itens utilizados de forma compulsiva ajudam a acentuar
as máscaras carnavalescas: drogas lícitas e ilícitas, e sexo. Numa tentativa de
intensificar aquela sensação de prazer imediato, momento de exceção da vida dura, os
excessos são vividos de forma inconsequente, gerando inclusive atitudes
inconsequentes, travestidas de vida e vitalidade.
Mas o problema “resolvido” é o problema relembrado quando a
festa acaba. Cada indivíduo volta ao seu papel social original. Sem ter feito
mudanças internas significativas, uma vez que as mudanças carnavalescas são
apenas execuções superficiais de papéis e fantasias, os indivíduos podem cair
num total vazio existencial, que provavelmente já existia antes e estava sendo
mascarado desesperadamente. A questão pode agravar-se ainda mais quando alguma
inconsequência gera um resultado inesperado para a vida dos indivíduos: doenças
sexualmente transmissíveis ou gravidez.
É possível apaixonar-se no carnaval e construir uma relação a
partir do encontro nesse contexto? Conheço algumas histórias bem sucedidas e
geralmente acontecem com pessoas que realmente estão abertas para um
relacionamento e em busca do mesmo. No geral, o encontro de duas pessoas
fantasiadas é também uma fantasia, podendo gerar paixão, mas dificilmente esta
paixão se sustenta pois foi o encontro de duas máscaras, de dois personagens.
Quando a realidade aparece, o que justificava a relação morre imediatamente.

Em termos relacionais, o carnaval pode ser uma diversão
saudável ou uma busca compulsiva por prazer, dependendo de como cada indivíduo
está lidando com suas carências afetivas e necessidades emocionais, cuidando de
si mesmo ou buscando aplacar suas dores em algo externo.
Minha redefinição pessoal final foi: cada indivíduo terá seu
carnaval conforme seu reflexo interno.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta
Sistêmica em BH
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Continuo encantada pelas obras artísticas! Segue abaixo as referências das imagens utilizadas:
4 - http://artodyssey1.blogspot.pt/2014/03/julio-visquerra.html
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Verdade Adriana, acredito que vivenciar o carnaval irá depender do desenvolvimento interno de cada pessoa, além da importância e valorização que ela se dá. Ótimo texto, parabéns!
ResponderExcluirObrigada Fernanda!
ResponderExcluirO carnaval é uma época onde as fantasias estão autorizadas de serem vividas, e se o indivíduo não tiver limites internalizados irá colocar pra fora todas estas fantasias. O que pode ser bom ou ruim dependendo da fantasia e dos limites.
Obrigada por deixar seu comentário!
Abraços
Adriana