SEXUALIDADE FEMININA
MARCAS PROFUNDAS DA CASTRAÇÃO
Mesmo com a
liberação sexual adquirida pelas mulheres em consequência dos movimentos
feministas, o que tenho visto na prática clínica e em relações de amizade, são
mulheres ainda profundamente castradas, vivendo uma sexualidade medíocre, sem
utilização de todo seu potencial e sem vivenciar todo prazer que lhe seria
possível.
A falta de libido
ou uma libido embotada, escondida, é um dos sintomas mais corriqueiros da
sexualidade feminina castrada. A escassez ou a total falta da masturbação é
impressionante! Assim, as mulheres deixam de viver uma sexualidade individual e
saudável e por consequência, deixam de exalar uma energia sexual que é
importante no processo de sedução, conquista e manutenção dos relacionamentos.

Um filme onde
identifiquei questões interessantes sobre a castração é “Shortbus”, dirigido
por John Cameron Mitchell, onde uma das personagens é uma terapeuta sexual que
nunca teve um orgasmo. Ela e outros personagens se encontram em Shortbus, um
clube underground que mistura arte, política, música e sexo, tendo que se
deparar com suas questões que a impedem de sentir o prazer.
A castração também
marcou meu corpo. Eu fui criada para casar virgem. Minha mãe, em seus valores
religiosos católicos, me ensinou “direitinho” a premissa da virgindade com
alguns agravantes: homens não prestam! Se você fizer “o que eles querem”, eles
vão te usar e depois te abandonar. E foi com essa crença que cresci. Fui uma
“boa menina” até entrar para a faculdade e diga-se de passagem, bendita
faculdade! Lá foi onde pude questionar tais parâmetros maternos, pois passei a
ver colegas que transavam com os namorados e eles não as abandonavam. Este foi
apenas o início das minhas mudanças de valores a respeito da sexualidade, das
relações e da religião.
Destaco neste post duas
formas de castração em especial: aquela via modelo de ser mulher, aprendido com
a mãe e outra via religião. A castração nem sempre implica numa intervenção
direta, clara e proibitiva sobre a sexualidade, mas na maioria das vezes diz
respeito as mensagens subliminares das nossas relações de origem.
A castração
feminina começa muito cedo, dentro de casa. Desde a infância recebemos
mensagens conscientes e inconscientes, verbais e não-verbais, emocionais e
corporais sobre nossa sexualidade e sobre o ser mulher, especialmente com a
figura materna, suas crenças e visões a respeito dos relacionamentos, dos
homens e de sua vivência do prazer.
No mito de Deméter (arquétipo da mãe) e Perséfone (arquétipo da filha), quando Perséfone é raptada por Hades e levada ao reino subterrâneo, a mãe se revolta e em protesto deixa sua função de deusa da agricultura, que fazia nascer a vida, fazendo a terra se tornar estéril. Até que uma negociação entre Zeus e Hades permite a Perséfone passar a primavera com a mãe. Podemos metaforicamente fazer uma superficial leitura desse mito associando-o ao aprisionamento que as filhas têm em relação as seus modelos de mulher/mãe. A mãe "não libera" a filha para se separar dela e ir viver seu romance com um homem. A filha por sua vez fica com um compromisso de lealdade com essa mãe, tendo que visitá-la ou seja, não abandonando seu modelo feminino.
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Deméter e Perséfone |
Para compreender as
marcas da castração no seu corpo, comece observando sua mãe de hoje e de
antigamente, tentando resgatar as “vozes” do passado, as quais ela expressava
alguma coisa sobre a sexualidade e sobre as relações. Relembre como ela se
posicionava na vida como mulher. Tinha ou não permissão para o prazer?
Expressava dor, sofrimento, peso ou satisfação e prazer em relação ao ser
mulher? Sua mãe é seu primeiro modelo feminino, e a forma como ela viveu
afetará diretamente sua relação com seu corpo, sua sexualidade e seu feminino.
Observe também a
relação dos seus pais ou casais de sua família. Como demonstravam afeto?
Beijavam na frente dos filhos? Expressavam desejo um pelo outro na frente dos
filhos? Qual era a atitude deles em relação a nudez? E em relação ao corpo
deles e a seu corpo?
Faça uma lista dos
mitos que você conhece a respeito da sexualidade e que te influenciaram e
influenciam até hoje.
Numa hierarquia um
pouco superior a familiar, e um pouco mais ampla em termos culturais, encontramos a religião, que pode ser profundamente
castradora. Avalie: qual a influência você teve da religião ou prática
religiosa em seu crescimento? Quais mensagens sobre sexo você recebeu na
educação religiosa e como foi influenciado por elas? Como as crenças religiosas
influenciam sua vivência da sexualidade hoje?
A visão religiosa
proibitiva da sexualidade costuma provocar uma culpa tão grande nos indivíduos
que decidem vivê-la que muitas vezes a sexualidade é vivida de forma
inadequada, impulsiva, inconsequente e desprazerosa. Lembrei-me de uma cena do
seriado “Sex and the City” onde uma das personagens, Miranda, está transando
com um homem que já havia sido um religioso, e após toda transa ele sempre saía
da cama rapidamente para tomar um banho. E quando ela pediu pra ele ficar,
dizendo que sexo não era sujo nem pecado, ele deu um acesso de raiva e a
expulsou da casa dele. Apesar de ter arranjado uma estratégia para se sentir
menos culpado pelo sexo, o dito cujo sentimento estava lá!
A culpa pode ser
associada também a masturbação. Apesar de a mesma ser uma expressão normal e
saudável da expressão sexual, a atividade ainda pode ser bastante conotada como
inadequada e provocando efeitos nocivos. Mito!
Só é possível se
livrar da culpa em relação a sua sexualidade quando você assume uma condição
crítica a respeito dos dogmas e valores religiosos e familiares que você
recebeu. Você é um ser pensante e precisa avaliar racional e emocionalmente o
que é bom ou não para sua vida. A religião deve te ajudar a conectar-se com o
divino mas não deveria prejudicar sua conexão consigo mesmo e com sua
sexualidade.
Nós mulheres precisamos nos despir dessas influências de nossas origens para podermos viver uma sexualidade
plena. Precisamos melhorar a relação com o próprio corpo. Enxergar e vivenciar o
erótico em nossos corpos e a beleza desse erotismo, desconectando-o dos mitos
originais. Precisamos suplantar os padrões de ser mulher das nossas origens.
Heiman e Lopiccolo, em seu livro "Descobrindo o Prazer"
apontam que a mulher precisa assumir a responsabilidade por sua própria
sexualidade, ou seja, precisa buscar desenvolver o seu prazer independente de
estar ou não numa relação. Isto significa que não deveria ficar esperando ter
um parceiro que lhe desperte sua sexualidade e que lhe dê prazer mas sim
descobrir formas de viver prazerosamente sua própria sexualidade.
Melhorar a relação
com o próprio corpo também depende diretamente do questionamento dos padrões de beleza
impostos, que nos deixam escravas lutando contra uma feiura corporal que não
existe. Implica em gostar do próprio corpo mesmo quando ele possui umas
gordurinhas localizadas, umas pochetezinhas na barriga, ou alguns chumaços de
celulite nas pernocas, ou alguns riachos de estrias no bumbum!
Viver a sexualidade
individualmente significa tirar um tempo para descobrir o próprio corpo e para
seduzir a si mesma. Invista na aventura de descobrir o prazer no seu corpo com
toques, com cremes, com óleos, com texturas e observar como e onde sente mais
prazer. Seduza e erotize a si mesma! Utilizar de recursos femininos como
lingeries pode ajudá-la nessa fantástica descoberta erótica de si mesma.
Acredito que quando
a mulher consegue enfrentar sua própria castração e trabalhar em função de
transformá-la, estará muito mais livre para construir um espaço erótico e
prazeroso nos relacionamentos. Estará mais pronta pra viver uma sexualidade
mais satisfatória e plena consigo mesma e com o outro.
Estou encantada com as pinturas que encontro no blog: http://artodyssey1.blogspot.com.br/
A primeira pintura está no link: http://artodyssey1.blogspot.pt/2014/02/fotini-hamidieli.html
A segunda pintura está no link: http://artodyssey1.blogspot.com.br/2014/02/colin-staples.html
A quarta pintura está no link: http://artodyssey1.blogspot.com.br/2014/02/colin-staples.html
Adriana
Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
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Parabéns Adriana muiiiito bom vc tratar este tema,vai servir p muita gente e eu me incluo tb...bj
ResponderExcluirQue bom que você gostou Kero! Tomara que ajude as mulheres a despertar esse lado super importante das nossas vidas! Um abraço!
ExcluirAdriana
Adorei a matéria, parabéns...
ResponderExcluirQue bom que você gostou Roberval! Agradeço por deixar seu comentário!
ExcluirUm abraço
Adriana