DAR OU NÃO DAR NO(S) PRIMEIRO(S) ENCONTROS – EIS A QUESTÃO
A
temática da sexualidade dá muito “pano pra manga”, e tentarei abordar esse
assunto sob diversos ângulos, iniciando neste texto com a polêmica questão de
transar ou não no primeiro encontro.
A
vivência da sexualidade é perpassada por muitas vias diferentes, sendo que sua
permissão ou seu interdito dependerão, originalmente, de valores atribuídos
pela cultura, religião e família. Todas estas vias possuem regras explícitas ou
implícitas sobre como homens e mulheres devem se comportar sexualmente. Algumas
forças são tão arraigadas e inconscientes, que se tornam verdades absolutas.
Como não temos consciência delas acabamos por viver suas influências no nosso cotidiano,
sem maiores questionamentos.
Você
já pensou sobre como construiu suas principais crenças sobre a sexualidade? De
onde vieram os conceitos que você aprendeu? Você está repetindo um péssimo
conceito de vivência sexual em função da sua origem? Quais os mitos da
sexualidade você ainda cultiva em sua vida?
Os
padrões de vivência da sexualidade também se repetem através das gerações
familiares e para decidir mudá-los você precisa ter consciência deles,
identificá-los em sua vida no momento em que se repetem e escolher seguir por
um caminho diferente.
Para
escolher se você deseja transar num primeiro encontro, antes você precisa
definir o que realmente deseja, para aquele momento e para a sua vida: diversão
ou relacionamento.
Quando
você deseja apenas diversão, curtir o momento, o tesão que excita seus
instintos, transar nos primeiros encontros não é um problema, desde que você
não crie expectativas de que se torne uma relação. Por quê? A satisfação dos
instintos é algo momentâneo e depois do sexo há um esvaziamento do desejo. Como
não há mais nada além deste desejo entre os amantes, ou seja, não há intimidade
relacional, aquela relação só dura o tempo do tesão. Com pouca frequência uma
relação sexual evolui para uma relação amorosa, mas o contrário sim, uma
relação amorosa tende a evoluir para uma relação sexual.
Percebo
também que com as mudanças de gênero construídas pós-feminismo a maior
liberação da sexualidade feminina promoveu uma confusão nas relações, uma vez
que a perspectiva machista continua em vigor. Há um movimento dos homens de
desqualificar as mulheres que transam no primeiro encontro: a fantasmagórica
fantasia da puta. "Se ela deu pra mim rápido assim, como posso confiar que ela
não dará para outro homem? Ela é fácil demais". O contrário quase não acontece,
as mulheres não costumam desqualificar os homens que transam no primeiro
encontro pois culturalmente, na perspectiva machista, é esperado que o homem
seja sexualmente ativo, é um atributo valorizado da masculinidade. E por outro
lado, no geral, ainda dentro do machismo, as mulheres buscam mais as relações e as vezes o transar no primeiro
encontro acontece como tentativa de conquista ou como um medo da perda caso não
o faça.
A
cultura pode ser extremamente perversa para homens e mulheres hoje. Para os
homens, rejeitar ou não querer transar num primeiro encontro, pode colocar em
xeque sua masculinidade. Já ouvi muitos relatos de mulheres que perguntaram
para homens que rejeitaram suas investidas sexuais, se eles eram gays, ou seja,
o preconceito machista não habita somente a mente do homem, mas da mulher
também. Assim, o homem heterossexual é obrigado a desejar e convidar para o
sexo qualquer mulher, para provar que não é gay, fugindo do fantasma cultural
da homossexualidade.

A
postos de suas armaduras culturais, o desencontro amoroso acontece assim como a
interdição sexual. Enquanto homens e mulheres fizerem performances sociais, que
viram jogos relacionais, haverá esse explícito desencontro. Somente quando
bancarmos nossos verdadeiros desejos, enfrentarmos nossos mitos, nossas carências e cuidarmos
delas sem medo da solidão, poderemos ser fiéis a nós mesmos e, enfim, atrair o
tipo de experiência sexual-relacional que buscamos.
Considerando
aqui que transar não significa transar com qualidade, homens e mulheres têm
vivido mais livremente a sexualidade, apesar de todos seus fantasmas. Mas estão
confusos sobre como construir relações de intimidade. Muitas relações acabam
ficando na superficialidade do prazer imediato e não evoluem muito além disso.
Mas se você deseja um relacionamento de longo
prazo, o melhor caminho é começar com a construção da intimidade antes de
chegar no sexo. Para construir uma relação, para conhecer o outro e se mostrar
pro outro, há todo um processo de conversas que gasta tempo, o que difere da
nossa perspectiva contemporânea do prazer imediato.
Gosto
muito de uma metáfora que aprendi no livro da Sobonfu Somé, “O Espírito da
Intimidade – ensinamentos ancestrais africanos sobre relacionamentos”*, que
fala do processo de construção da intimidade no relacionamento como sendo uma
caminhada na colina. Ela aponta que os ocidentais vão direto para ao topo da colina,
e que no topo vivem o amor romântico e a paixão, mas se um relacionamento já
está no topo não tem muito para onde evoluir e sua tendência é descer a colina,
onde aparecerão os problemas. Já na cultura
africana da autora, cada etapa na subida da montanha é importante, e o
relacionamento é gradualmente empurrado para cima, no caso deles com a ajuda da
comunidade, com o propósito do espírito e com apoio de rituais**. Então, se o
desejo é relacionar-se, deve-se começar da base da colina em direção ao seu
topo. Isso me lembra também a metáfora da construção de uma casa, onde é
preciso construir um bom alicerce para que a casa se sustente.
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Então,
se você está buscando uma relação, invista primeiro na construção dessa
intimidade e dê tempo ao tempo para que o sexo chegue em seguida, naturalmente,
sem ansiedade. Um costume de culturas nórdicas é convidar seu pretendente para
um almoço, um café, ou um jantar. Estes são geralmente ambientes onde é
possível conversar mais tranquilamente e conhecer o outro avaliando assim se
existe ou não uma conexão que se valha a pena investir. Nós brasileiros temos
muito que aprender a esse respeito.
Seja qual for sua busca, diversão ou relacionamento, viva de forma coerente e esteja por inteiro na sua escolha.
Seja qual for sua busca, diversão ou relacionamento, viva de forma coerente e esteja por inteiro na sua escolha.
Adriana Freitas
Psicoterapeuta Sistêmica em BH
*Conferir a página de Indicações de Livros do Blog.
** Para aprofundar nesses conceitos confira o livro.
*** Imagens deste post foram retiradas do blog http://artodyssey1.blogspot.com.br/, que possui mais obras de vários artistas, confira o link deles no facebook https://www.facebook.com/artodyssey
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Muito pertinente e esclarecedor! Parabéns.
ResponderExcluirObrigada Márcia! Um abraço, Adriana
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